Traição na Era Bolsonariana
Em Riyadh, Bolsonaro diz que acionará Moro para porteiro depor à PF sobre caso Marielle
Bolsonaro afirma que Witzel o informou no dia 9 que o presidente havia sido citado no depoimento do funcionário à Polícia Civil
RIYADH – O presidente Jair Bolsonaro acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de atuar em conluio com o delegado da Polícia Civil encarregado pelo caso Marielle Franco para tentar incriminá-lo. Segundo Bolsonaro, Witzel o informou sobre a investigação, que corre em segredo de Justiça, no dia 9 de outubro.
O presidente afirmou ainda que acionará o ministro da Justiça, Sérgio Moro, para que o porteiro do condomínio onde um dos acusados de matar a vereadora morava preste um novo depoimento à Polícia Federal.
Bolsonaro
“No meu entendimento, o senhor Witzel estava conduzindo o processo com o delegado da Polícia Civil para tentar me incriminar ou pelo menos manchar o meu nome com essa falsa acusação de que eu poderia estar envolvido na morte da Marielle”,
disse Bolsonaro a jornalistas na saída do hotel onde está hospedado, em Riad, na Arábia Saudita.
Raquel Dodge pediu que apurações sejam conduzidas em âmbito federal. Duas pessoas estão presas pelo crime, mas as circunstâncias completas da execução ainda não são conhecidas.
De acordo com o presidente, Witzel sabia há pelo menos 20 dias que ele foi citado no depoimento do porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde morava Ronnie Lessa, um dos dois acusados de matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes, em março de 2018.
“Não sei quem é o porteiro. Eu não tive acesso (ao processo) como a Globo teve, como o Witzel teve. O processo corre em segredo. Nós sabemos que são pessoas humildes, que quando são tomados depoimentos sempre estão preocupadas com alguma coisa. No meu entender, o porteiro está sendo usado pelo delegado da Polícia Civil, que segue ordem do senhor Witzel, governador”, afirmou o presidente.
O porteiro ou se equivocou ou não leu o que assinou. Pode o delegado (da Polícia Civil) ter escrito o que bem entendeu e o porteiro, uma pessoa humilde, né, acabou assinando embaixo”, declarou.
“Estou conversando com o ministro da Justiça para a gente tomar, via Polícia Federal, um novo depoimento desse porteiro pela PF para esclarecer de vez esse fato, de modo que esse fantasma que querem colocar no meu colo como possível mentor da morte de Marielle seja enterrado de vez”, ressaltou Bolsonaro.
O presidente contou que Witzel o informou sobre a investigação durante o aniversário do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, no Clube Naval do Rio de Janeiro, realizado no dia 9 de outubro.
“Ele (Witzel) chegou perto de mim e falou o seguinte: ‘O processo está no Supremo’. Eu falei: ‘Que processo?’. ‘O processo está no Supremo?’. ‘Que processo?’. ‘Ah, o processo da Marielle’. ‘O que eu tenho a ver com o caso da Marielle?’. ‘Não, o porteiro citou o teu nome’. Ou seja, Witzel sabia do processo que estava em segredo de Justiça”, declarou Bolsonaro.
O presidente disse ainda que Witzel tem uma “tara” sobre ele e seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). “O Witzel era uma pessoa desconhecida, colou no Flávio Bolsonaro e em mim para poder se eleger governador do RJ. Tomou posse e elegeu Flávio e eu como inimigos dele. Por quê? Ele quer ser candidato à Presidência em 2022. Nada contra”, disse.
“Por que ele tem essa tara em cima de mim e do Flávio? Ele quer exatamente destruir a minha reputação atacando aquilo que mais sagrado eu tenho, que é o combate à corrupção e a questão da honestidade. Então ele, no meu entender, conduz esse processo no Rio de Janeiro. Estou dando provas aqui porque ele falou comigo há quase um mês atrás sobre esse processo”, reforçou.
Investigação pode ir ao STF
O envolvimento de Bolsonaro poderá levar a investigação do caso Marielle ao Supremo Tribunal Federal (STF) devido ao foro por prerrogativa de função.
Segundo reportagem exibida na terça-feira no Jornal Nacional, da TV Globo, o porteiro afirmou à Polícia Civil que, às 17h10 de 14 de março de 2018 (horas antes do crime), um homem chamado Elcio (que seria Elcio Queiroz, o outro acusado pelo duplo homicídio) entrou no condomínio dirigindo um Renault Logan prata e afirmou que iria à casa 58, que pertence a Bolsonaro e onde morava o presidente.
De acordo com a TV, o porteiro do condomínio afirmou em depoimento que ligou para a casa 58 e o “seu Jair” atendeu e autorizou a entrada de Elcio. O então deputado, porém, estava em Brasília, conforme registros da Câmara.
Após a exibição da reportagem, Bolsonaro acusou Witzel de vazar para a Globo o inquérito sobre a morte de Marielle e Anderson, que corre em segredo de Justiça. “Por que querem me destruir? Por que essa sede de poder, seu governador Witzel?”, questionou o presidente, visivelmente nervoso, em uma transmissão ao vivo de 23 minutos, gravada durante a madrugada na Arábia Saudita e exibida em suas redes sociais. “O senhor (Witzel) quer destruir a minha família para chegar à presidência da República.”
Witzel nega acusações
Em nota divulgada em suas redes sociais, Witzel lamentou a manifestação feita na terça-feira pelo presidente, que classificou como “intempestiva”, e disse que foi atacado injustamente. “Jamais houve qualquer tipo de interferência política nas investigações conduzidas pelo Ministério Público e a cargo da Polícia Civil”, disse o governador.
“Não transitamos no terreno da ilegalidade, não compactuo com vazamentos à imprensa. Não farei como fizeram comigo, prejulgar e condenar sem provas”, escreveu. “Hoje, fui atacado injustamente. Ainda assim, defenderei, como fiz durante os anos em que exerci a Magistratura, o equilíbrio e o bom senso nas relações pessoais e institucionais.”
Link original da matéria:
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,em-riad-bolsonaro-diz-que-witzel-sabia-desde-o-dia-9-que-presidente-foi-citado-no-caso-marielle,70003069145
Atualização sobre o assunto:
Bolsonaro atribui a Witzel vazamento que o vincula a caso Marielle; governador nega
Em live gravada durante a madrugada na Arábia Saudita, presidente classificou reportagem da TV Globo como ‘patife’ e ‘canalha’
São Paulo– Em uma transmissão em vídeo nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ) criticou fortemente a veiculação nesta terça-feira, 29, de reportagem pelo Jornal Nacional, da TV Globo, que o vincula a um dos acusados de assassinar a vereadora Marielle Franco (PSOL) em 2018.
Bolsonaro ainda atribuiu o vazamento de informações do inquérito ao governador do Rio, Wilson Witzel (PSC).
“Não devo nada a ninguém. Não tenho o menor motivo para mandar matar quem quer que seja”, disse Bolsonaro. Ele disse que só soube quem era Marielle Franco no dia em que a vereadora foi executada, e chamou os responsáveis pela reportagem da TV Globo de “patifes, canalhas”.
“Por que querem me destruir? Por que essa sede de poder, seu governador Witzel?”, questionou o presidente. Ele disse que o governador teria atuado pessoalmente para o vazamento de informações do inquérito, mas não apresentou evidências. “O senhor quer destruir a minha família para chegar à presidência da República.”
Em viagem à Arábia Saudita, o presidente fez a transmissão durante a madrugada do país. Ele disse que tinha interesse em conversar com delegados do caso para mostrar que não tem envolvimento, e cobrou uma supervisão do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) tanto nas investigações do assassinato de Marielle quanto no atentado a faca que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018.
Bolsonaro citou protestos na América do Sul, que provocaram tumultos no Chile, no Equador e na Bolívia, e sugeriu que a emissora tem a intenção de criar instabilidade no País. “Será que a Globo quer criar um fato, uma narrativa, de que eu deveria me afastar?”, questionou
O presidente citou um suposto interesse da emissora em verbas de publicidade governamental, cujos contratos são renovados anualmente. Em um momento do vídeo, ele chegou a dizer que não haveria retaliação à Globo por matérias críticas a seu governo.
“Não vou perseguí-los”, disse. “Deixem eu governar o Brasil. Vocês perderam.”
A reportagem exibida pelo Jornal Nacional diz que o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde morava um dos acusados de assassinar Marielle, afirmou à Polícia Civil que um homem chamado Elcio (que seria Elcio Queiroz, o outro acusado pelo duplo homicídio) entrou no condomínio dirigindo um Renault Logan prata e afirmou que iria à casa 58, onde morava Bolsonaro.
A visita teria ocorrido horas antes do crime, segundo o relato.
O porteiro afirma que então ligou para a casa 58 e o “seu Jair” atendeu e autorizou a entrada de Elcio. O então deputado, porém, estava em Brasília, segundo registros da Câmara.
“Se vocês tivessem o mínimo de decência, por saber que o processo corre em segredo de Justiça, não poderiam divulgar”, disse o presidente, dirigindo-se a jornalista da emissora. “Eu não deveria perder a linha, sou presidente da República, mas confesso que estou no limite com vocês (Globo).”
Respostas
Em nota, divulgada em suas redes sociais, Witzel lamentou a manifestação do presidente, que classificou como “intempestiva”, e disse que foi atacado injustamente.
“Jamais houve qualquer tipo de interferência política nas investigações conduzidas pelo Ministério Público e a cargo da Polícia Civil”, disse o governador.
“Não transitamos no terreno da ilegalidade, não compactuo com vazamentos à imprensa. Não farei como fizeram comigo, prejulgar e condenar sem provas”, escreveu. “Hoje, fui atacado injustamente. Ainda assim, defenderei, como fiz durante os anos em que exerci a Magistratura, o equilíbrio e o bom senso nas relações pessoais e institucionais.”
Em nota, a TV Globo afirmou, em nota, que “não fez patifaria nem canalhice”.
“Fez, como sempre, jornalismo com seriedade e responsabilidade. Revelou a existência do depoimento do porteiro e das afirmações que ele fez. Mas ressaltou, com ênfase e por apuração própria, que as informações do porteiro se chocavam com um fato: a presença do então deputado Jair Bolsonaro em Brasília, naquele dia, com dois registros na lista de presença em votações.”
“O depoimento do porteiro, com ou sem contradição, é importante, porque diz respeito a um fato que ocorreu com um dos principais acusados, no dia do crime. Além disso, a mera citação do nome do presidente leva o Supremo Tribunal Federal a analisar a situação”, acrescentou.
“A Globo lamenta que o presidente revele não conhecer a missão do jornalismo de qualidade e use termos injustos para insultar aqueles que não fazem outra coisa senão informar com precisão o público brasileiro. Sobre a afirmação de que, em 2022, não perseguirá a Globo, mas só renovará a sua concessão se o processo estiver, nas palavras dele, enxuto, a Globo afirma que não poderia esperar dele outra atitude. Há 54 anos, a emissora jamais deixou de cumprir as suas obrigações.”
Link original da atualização da matéria:
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-atribui-a-witzel-vazamento-que-o-vincula-a-caso-marielle,70003069020
Canalhas !!! Globo quer empurrar Marielle pra cima de mim diz Bolsonaro[/caption]
“Acabou a teta, não tem dinheiro mais público para vocês”, disse Bolsonaro à Rede Globo. Renovamidia[/caption]
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“No meu entendimento, o senhor Witzel estava conduzindo o processo com o delegado da Polícia Civil para tentar me incriminar ou pelo menos manchar o meu nome com essa falsa acusação de que eu poderia estar envolvido na morte da Marielle”, disse Bolsonaro Foto: Hamad I Mohammed / Reuters[/caption]
