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Por J. R. Guzzo

Fenômeno sísmico da eleição em São Paulo é a preferência dos trabalhadores pela direita

O problema, para a ciência política, é que as classes trabalhadoras da cidade não querem votar no Partido dos Trabalhadores; a reação tem sido negar a realidade

O fato mais revelador das eleições municipais na maior cidade do Brasil parece não estar sendo percebido, e muito menos entendido, por nossos cientistas políticos.

Ao contrário da geologia, que oferece sismógrafos e outros artefatos para detectar o movimento das grandes massas de matéria debaixo da superfície da Terra, os analistas só têm à sua disposição o bom senso.

Se têm pouco, ou nenhum, não conseguem acompanhar a deslocação das placas subterrâneas que determina para onde está indo a política na vida real.

O fenômeno sísmico dessas eleições para a Prefeitura de São Paulo é a aparente preferência das classes trabalhadoras por nomes da direita para governar a sua cidade. São Paulo é, sem dúvida, a capital proletária do Brasil.

Eleição, aqui, não é decidida por chefetes políticos que distribuem cartões do Bolsa Família, nem por manifestos de intelectuais ou por bilionários com “pegada social”.

É o mundo do trabalho e da produção que vai às urnas — e esse mundo está dizendo que a direita tem dois dos três candidatos preferidos pelos 9,3 milhões de eleitores paulistanos.

Há um negacionismo exacerbado em relação a essa realidade.

Não poderia ser assim dos pontos de vista sociológico, filosófico e metafísico, segundo as instruções que recebemos das classes “que pensam”.

Está previsto em seus tratados que só a burguesia, os fanáticos e os débeis mentais podem votar na direita.

Os trabalhadores, obrigatoriamente, têm de votar na esquerda — seu partido não se chama, justamente, Partido dos Trabalhadores?

Mas a realidade está contando uma história diferente.

São Paulo é a cidade que mais tem trabalhadores no Brasil — e eles vêm de todo o país, o que torna São Paulo a cidade mais brasileira do Brasil.

O problema, para a ciência política, é que os trabalhadores de São Paulo não querem votar no Partido dos Trabalhadores.

A reação tem sido negar a realidade.

Não é a esquerda que está doente. É a direita que está dividida.

Tem dois dos três candidatos mais fortes, e isso mostra a sua fraqueza: deveria ter um só no bloco da frente, mas se deu mal e ficou com dois.

A qualidade média do raciocínio é daí para pior.

Não se admite que o trabalhador paulistano está pensando em melhorar a sua própria vida, e não em dar apoio aos moradores de rua ou em “desarmar a polícia”.

Pior: seus anseios de prosperidade são tratados como uma tara direitista, religiosa e reacionária.

Pior ainda: ameaçam a “democracia”.

Mas a massa eleitoral é a classe operária, e ela não está no arquipélago onde se pensa assim, esse que vai de Perdizes ao Brooklin, do Alto de Pinheiros à Vila Mariana.

As placas mudaram de lugar.

Por J.R. Guzzo

J.R. Guzzo
Jornalista escreve semanalmente sobre o cenário político e econômico do País (Felipe Cotim/VEJA.com)
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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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