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Lula é cobrado por indígenas em cerimônia e endurece discurso

Além do presidente, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, está presente no evento

Lideranças indígenas presentes na cerimônia oficial de retorno do manto sagrado ao Museu Nacional, no Rio, fizeram reivindicações ao presidente, Luis Inácio Lula da Silva (PT).

O evento contou tambpem com a presença da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e de outros representantes do governo federal, estadual e municipal. Alexandre Kellner, diretor do museu, não foi ao local.

Na cerimônia, algumas polêmicas foram abordadas, entre elas uma envolvendo o próprio manto tupinambá. Em julho deste ano, quando o artefato chegou ao Brasil, houve uma tensão institucional após os indígenas de Olivença reclamarem que o manto chegou ao museu sem que fosse recebido por seu povo.

Culturalmente, para os tupinambás de Olivença, na Bahia, ele é como um ancião vivo, e não apenas um objeto sagrado, e é capaz de conectá-los com seus ancestrais. No palco, uma das lideranças ressaltou:

— Nosso patrimônio não está sendo tratado com o devido respeito.

Dizemos basta, somos herdeiros verdadeiros do manto sagrado.

Ele é o primeiro símbolo de força e união de um povo que habita esse território desde tempos imemoriais.

Ele nos foi roubado — disse Yakuy Tupinambá.

No decorrer da cerimônia, outras questões foram levadas ao microfone pelas lideranças indígenas. A Yakuy Tupinambá leu um manifesto cobrando mais reação a assassinatos pelo Brasil e à demarcação de terras. Lula, por sua vez, respondeu:

— Sou a única vez que vocês chegaram à Presidência da República. Aqui tem alguém que pensa como vocês. Um presidente não pode só fazer discurso, tem que cumprir a Constituição, tem que respeitar a justiça — disse ele, ao alegar que há anos tenta negociar os direitos de demarcação indígena.

Diante da reivindicação,

o presidente Lula afirmou que as coisas são mais fáceis de falar do que de fazer e voltou a dizer que negociação política é difícil.

— Quando vetei o marco temporal, imaginei que eles fossem vetar e vetaram.

A maioria do congresso brasileiro não tem compromisso com povos indígenas, e sim com grandes fazendas — afirmou o presidente.

Existente há mais de 400 anos, o manto estava no Museu da Dinamarca há três séculos. Agora, será guardado em uma sala da Biblioteca Central do Museu Nacional e, futuramente, exposto.

— Hoje é um dia em que o Brasil conhece o manto tupinambá, que foi a Amotara Nivalda, em 2000, quem reconheceu na mostra dos 500 anos. Desse dia para cá, ela fez de tudo para o manto ficar no Brasil. Depois, ele voltou para a Dinamarca. Ela hoje é memória. Mas foi o levante do povo tupinambá — disse Japomoty, que mencionou também a dificuldade na demarcação de território indígena: — É tudo difícil. Não sei por quê.

Artefato raro e sagrado para o Povo Tupinambá, o manto retornou do Museu Nacional da Dinamarca para o Museu Nacional, no dia 11 de julho, mais de três séculos após o artefato ter sido retirado do país.

Em resposta, o presidente Lula lamentou e pediu que fosse lembrado o quão “extraordinário era participar desse momento”.

— O momento de hoje é extraordinário para que a gente reflita sobre o que acontece no nosso Brasil desde a descoberta deste país, em 1500. Lamento profundamente.

Se eu tivesse o poder que ela pensa que eu tenho, não estaria comemorando o manto, mas a vida de pessoas que morreram pelas mãos de colonizadores. É extraordinário participar desse momento especial não só para os indígenas — diz Lula.

Além disso, ele aproveitou para fazer agradecimentos e fez um apelo ao governo baiano.

— O retorno do manto é um marco. Agradeço ao Museu da Dinamarca pela doação e parabenizo o Museu Nacional e a embaixada pelas tratativas. E ao povo tupinambá o engajamento para esta luta. O manto está no museu nacional mas espero que todos compreendam que o lugar dele não é aqui.

O governador da Bahia tem a obrigação e um compromisso histórico de construir na Bahia um lugar para receber esse manto — continuou.

Também estiveram presentes no evento o reitor da UFRJ, Roberto Medronho, o secretário municipal de cultura do Rio, Marcelo Callero, a deputada federal Jandira Feghali, a embaixadora da Dinamarca Eva Pedersen, e caciques e cacicas Tupinambás.

Por Thayná Rodrigues — Rio de Janeiro

 

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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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