E aguarda 'uma sinalização do povo'
Bolsonaro diz que Brasil ‘está no limite’ e fala em ‘barril de pólvora’.
Estou aguardando o povo dar uma sinalização porque a fome, a miséria e o desemprego estão aí, só não vê quem não querJair Bolsonaro, presidente da República
O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), disse hoje que o Brasil está no limite e, sem ser específico, afirmou que aguarda ‘uma sinalização do povo’ para ‘tomar providências’. Ele ainda falou em ‘barril de pólvora’ por causa dos problemas sociais gerados pela pandemia do novo coronavírus no Brasil.
Depois de dizer que recebeu informações do Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) de que tomates estão sendo desperdiçados, Bolsonaro fez uma suposição de que seria apontado como culpado diante de uma escalada da inflação.
Neste momento, pausadamente, ele disse aos apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada:
O Brasil está no limite, pessoal fala que devo tomar providência… Estou aguardando o povo dar uma sinalização porque a fome, a miséria e o desemprego estão aí, só não vê quem não quer Jair Bolsonaro, presidente da República
Na sequência, o presidente usou mais uma vez uma interpretação distorcida de decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) para dizer, de forma equivocada, que não tem poder sobre a política para conter a covid-19 no Brasil.
Bolsonaro ainda citou o pedido da ministra Cármen Lúcia para que o presidente da Corte, Luiz Fux, marque julgamento de uma notícia-crime contra ele por suspeita de genocídio contra indígenas na pandemia.
“Amigos do STF, daqui a pouco vamos ter uma crise enorme aqui. Vi que um ministro baixou um processo para me julgar por genocídio… Olha, quem fechou tudo, quem está com a política na mão não sou eu. Agora, não quero brigar com ninguém, mas estamos na iminência de ter um problema sério no Brasil. O que nascerá disso tudo, onde vamos chegar? Parece que é um barril de pólvora que está aí. E tem gente, de paletó e gravata, que não quer enxergar isso”, afirmou.
O STF determinou, no começo da pandemia, como concorrentes as competências dos governos federal, estaduais e municipais em relação ao combate à covid-19.
Ou seja, todos têm poder sobre medidas, diferente do que Bolsonaro insinua ao dizer que “não está com a política nas mãos”.
As declarações de Bolsonaro mais uma vez giraram em torno de críticas a medidas restritivas adotadas por estados e municípios, que segundo ele têm como efeitos colaterais fome e desemprego.
Porém, epidemiologistas e economistas, em sua grande maioria, indicam que um controle mais rígido de circulação permite um arrefecimento mais rápido da pandemia, influindo positivamente no retorno da economia. Por outro lado, a falta de restrições prolongaria a crise sanitária e seus efeitos sociais.
Na conversa com apoiadores, Bolsonaro chegou a criticar quem
“acha que a vida é home-office (trabalhar em casa). “E tem gente, de paletó e gravata, que não quer enxergar isso. Acha que a vida é o serviço dele, o home office, veste terninho e gravata, recebe o dinheiro no final do mês. E o povo que se exploda”, disse.
O Brasil enfrenta o pior momento da pandemia, com média de mais de 3 mil mortes por dia.
A taxa de transmissão também continua alta, sendo que 80.157 novos casos foram confirmados em 24 horas segundo o último levantamento. Os dados não representam quando os óbitos e diagnósticos de fato ocorreram, mas, sim, quando passaram a constar das bases oficiais dos governos.
“Não estou ameaçando”.
Apesar de no começo falar que ouve pedidos para “tomar providências”, mas espera uma
“sinalização do povo”, Bolsonaro disse que não está ameaçando ninguém com seu discurso. “Não estou ameaçando ninguém, mas estou achando que brevemente teremos problemas sérios no Brasil. Dá tempo de mudar ainda. Só parar um pouco de usar a caneta e e usar o coração”, disse. Depois de repetir seu discurso contra medidas restritivas, ele voltou a falar em providências que pode tomar “se o povo quiser”.
Não ficou claro mais uma vez sua intenção com a frase.
“Alguns querem que eu tome providência já. Pessoal tem que se conscientizar do que está acontecendo. Aí você pergunta, você já conversou com seu vizinho a favor do lockdown?
Fala para ele que a economia como está indo pode cair arrecadação, não vai ter dinheiro para pagar o salário dele também. Ou você acha que esse salário nunca pode deixar de existir se continuar a economia dessa maneira?
Eu só digo uma coisa: eu faço o que o povo quiser que eu faça”, disse.