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‘Mestrão’ de Moro

Reforça como funciona o político atual: as redes mandam, ele obedece como fantoche

Mensagem a senador na sabatina resume como não há espaço para meio-termo, ponderação ou visão própria que não seja tragada pela polarização

Após abraços e risadas entre o agora aprovado como ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, e o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), veio a mensagem de alerta ao paranaense.

No seu celular, pipocou o recado do contato com a sugestiva alcunha de  Mestrão para avisar:

o coro estava comendo nas redes

e ele não poderia nem pensar em declarar voto favorável ao indicado por Lula.

É esse tipo de mensagem, flagrada pelo repórter fotográfico Wilton Junior, do Estadão, que chega a todo momento nos celulares daqueles que hoje nos representam. Com avisos, alertas e estatísticas para que eles nunca se esqueçam de que são reféns das redes sociais.

Moro não é diferente de grande parte dos políticos que alçaram voo com a expansão da polarização e que, agora, precisam rezar uma mesma cartilha cada vez mais estreita e radical.

Não há espaço para meio-termo.

O político eleito pelo impulsionamento que ganhou no mundo digital é o menos livre de todos.

Ainda que esteja falando de liberdade de expressão aos quatro ventos, sua posição já está dada.

Sua sobrevivência política dependerá de como vai reagir a cada fato, no Brasil ou no exterior, de que lado está em uma guerra do outro lado do mundo, se vai usar amarelo ou vermelho, em quem vai votar para o conselho tutelar, quais lugares frequenta, ou qual chocolate anda comendo, se o de direita ou de esquerda.

Tudo está sendo monitorado e rotulado.

E se ele consegue ser civilizado com seu colega nos cafezinhos do Congresso, quando uma câmera estiver ligada precisa atuar como um animal feroz.

Eis o grande dilema de quem se propõe a ser razoável hoje em dia. As redes sociais, em geral, não são.

Quem quiser segui-las a ferro e fogo para não apanhar, vai colher delas tudo o que tem mais radical. E com bolhas cada vez mais formadas, a tendência é que isso piore cada vez mais.

Se o representante está submisso a elas, tende a também se tornar alguém incapaz de participar de um debate equilibrado.

Por essas e outras, o Brasil deixou de ser um país de mínimos consensos. Pense aí em um tema que, se proposto para debate hoje na praça levaria a uma posição única, sem qualquer debate que seja ou sem antagonismos políticos.

Dos direitos básicos individuais ao conceito de democracia, do direito à vida ao combate ao crime, nada pode ser discutido sem uma guerra de narrativas e versões. Você pode até tentar, mas logo aparecerá um “Mestrão” para lhe avisar do cancelamento que o espera na parte da sociedade (ou das redes) que ainda o apoia.

É a senha para dizer: anule-se e sobreviva. Como na brincadeira, ‘o que seu mestre mandou, faremos todos’!

Por Ricardo Corrêa

https://www.instagram.com/reel/C0ziY8zPRQJ/?utm_source=ig_embed&ig_rid=39b449db-4bfe-4cf6-a1f6-c1dc8ee487f8

Link original da matéria:
https://www.estadao.com.br/politica/ricardo-correa/mestrao-reforca-como-funciona-o-politico-atual-as-redes-mandam-e-ele-obedece-como-fantoche/

Mensagem no celular de Sérgio Moro alerta sobre pressão nas redes sociais, com pedido para que ele não declarasse voto favorável a Flávio Dino no STF. Foto: Wilton Junior/Estadão

 

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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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