Cultura em período da pandemia.
Existirá poesia após COVID-19?
No livro Crítica cultural e sociedade escrito em 1949, o filósofo Theodor W. Adorno aponta para a necessidade de refletir sobre a tensão entre barbárie e representação. Então se levanta a seguinte questão: Poderia existir poesia após Auschwitz ?

Passado 71 anos de sua publicação e mais 2 anos e meio que pude ler este livro questiono-me:
Existirá poesia após COVID-19?
Para o autor a crítica cultural encontra-se diante do último estágio da dialética entre cultura e barbárie: “escrever um poema após Auschwitz é um ato bárbaro e isso corrói até mesmo o conhecimento das razões pelas quais hoje é impossível escrever poemas.” (ADORNO, 1998, p. 26.).
No ano de 1945 os cativos de Auschwitz foram libertados, em 2020 completando exatos 75 anos deste fato histórico, vivenciamos um novo episódio emblemático e desafiador para a compreensão humana chamado de coronavírus.
Hoje, se comparado a Auischwitz, o campo de concentração é o planeta e o exército nazista pode ser representado pelo vírus COVID -19.
Podemos enfatizar uma diferença específica entre esses dois momentos históricos, as vítimas. Isto é, o vírus não tem feito vítimas apenas entre as minorias e negligenciados do sistema, mesmo que tenha sido transportado para diversos países, como os da América Latina, por viajantes de classe social que consome turismo.
Mas os dados da OMS apresenta que o vírus foi responsável pela morte de de milhares de pessoas pelos continentes, não se importando com classe social, e tampouco questões de sexualidade, etnia ou crenças.
Ele apenas não acometeu vítimas as pessoas que têm se resguardado por meio do distanciamento social, protegendo a si mesmos e as demais pessoas que fazem parte do seu círculo de convivência, como orientou a OMS.
Quando refiro-me a Adorno, quero falar não pelo que o vírus está causando, mas sim no que nós, seres humanos, estamos ocasionando.
Apesar de termos mais de 161.402 mortes em todo o mundo, não devemos depositar a culpa num único fator, devemos aderir, também, responsabilidades ao fator humano.
Questiono no título do texto se após COVID-19 teremos poesia, visto que Adorno salienta que não podemos escrever e que não teremos o que escrever após atos de extrema selvageria e atrocidade.
Então, como poderia haver poesia quando a população se trata somente como estáticas?
Essa conjuntura rompe todo sentido da poesia que por conseguinte nos retrata e arremete sentimentos.
Tais situações como a que presenciamos atualmente limita o sentido de poesia que existe em cada um, afinal coisifica o homem.
Enquanto o ser humano for tratado como objeto e números ou um mero ser insignificante e não como um ser que de fato é importante e está acima de lucros, que é a essência do sistema capitalista, obtidos através da exploração da mão de obra do trabalhador assalariado, não poderemos ter motivos o suficiente para escrever belas e sinceras estrofes para compor uma poesia.
Pois no fim das contas nosso amor será ressignificado para o dinheiro e os bens materiais, como os números da bolsa, a alta do dólar, enquanto pessoas serão esquecidas nas sarjetas das periferias de nossas vidas insensatas.
By
Wanderson Poloniato
Graduando em História pela UEG, unidade Pires do Rio, com ênfase no estudos de gênero por base de Foucault.
Supervisor do projeto extensão Cine Diversidade
Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Diversidade Sexual e de Gênero – NEPEDS/ IF Urutaí
