Vida depois da vida: as revelações de Vale Owen e Chico Xavier
Vida As descrições da vida pós-morte psicografadas pelo médium Chico Xavier e pelo sacerdote anglicano Vale Owen apresentam tal consonância entre si que praticamente se confirmamdepois da vida: as revelações de Vale Owen e Chico Xavier
Em homenagem ao médium mineiro Francisco Cândido Xavier, que neste 2 de abril de 2021
completaria 111 anos, reproduzimos a seguir um dos artigos da edição a seu respeito publicada
por PLANETA em 1983.
No ano de 1919, Lorde Northcliffe, proprietário de uma cadeia de jornais londrinos, tomou
conhecimento de uma obra que narrava fatos sobre a vida após a morte, psicografada por um
sacerdote da Igreja Anglicana, o reverendo G. Vale Owen, pároco de Oxford, Lancashire. A
originalidade dos conceitos interessou Northcliffe a tal ponto que ele pediu (e obteve)
permissão para publicar a obra, de forma seriada, no “Weekly Despatch”.
Assim, ela apareceria
nesse semanário durante os anos de 1920 e 1921, apesar dos protestos de pessoas ligadas à
Igreja, inconformadas porque os ensinamentos contidos nas mensagens não condiziam com os
cânones anglicanos.
Northcliffe não deu importância a essas reclamações e continuou imprimindo a série. Ele
chegou a oferecer a Owen mil libras, soma considerada excelente naquela época. Embora seus
proventos fossem modestíssimos, o sacerdote recusou essa quantia.
Ele disse que a obra não
era de sua autoria, mas das entidades espirituais que a haviam ditado, e que se sentia feliz
por ter a oportunidade de torná-la conhecida.
No prefácio de um de seus livros, Owen rejeita a opinião geral de que os membros do clero são
crédulos, aceitando tudo o que lhes é proposto dentro da área do misticismo.
Explica que, ao
contrário, o treinamento proporcionado a eles pela Igreja Anglicana desenvolve seu senso
crítico a fim de que não se convençam facilmente da veracidade de qualquer fato novo que
surja no âmbito daquilo que os ensinaram a aceitar.
Obras espirituais
Foi justamente por esse motivo que ele levou tanto tempo para admitir que as mensagens que
lhe eram enviadas – recebidas por intermédio de terceiros – provinham de pessoas falecidas,
uma das quais dizia ser sua própria mãe, desencarnada anos antes.
Mas, quando se convenceu da
legitimidade dessas comunicações, dispôs-se a receber as mensagens diretamente, conforme
sugestões da entidade. Então, após o término dos serviços religiosos e ainda de batina, ele
se sentava na sacristia da sua igreja, de lápis na mão, transcrevendo o que lhe ditavam sua
mãe e o grupo de espíritos que trabalhava com ela.
Vemos, pois, já de início, que existem paralelos entre a vida mediúnica do sacerdote inglês e
de Chico Xavier: ambos foram iniciados no trabalho espiritual que iriam executar por suas
falecidas mães.
Outra semelhança é que nem Chico, nem Vale Owen aceitaram qualquer soma em dinheiro pela
publicação de seus trabalhos. A alegação de ambos foi de que a obra não era de sua autoria,
mas das entidades espirituais que a ditavam.
Devemos ressaltar, contudo, que Chico Xavier era católico praticante e só teve três anos de
escola primária a seu favor. Já Owen, como sacerdote da Igreja Anglicana, era altamente
instruído. Ele frequentou algumas das melhores escolas e universidades inglesas. Apesar
dessas diferenças culturais e religiosas, não existem dissonâncias profundas entre o conteúdo
das obras psicografadas por um e outro.
Ambos receberam descrições detalhadas sobre o que
ocorre após a morte do corpo físico, com informações detalhadas acerca do Outro Lado.
Evolução e reencarnação
A mais marcante divergência refere-se à reencarnação. Segundo Chico Xavier, ela é
imprescindível para a evolução do homem, explicando, de maneira racional, as causas de seus
sofrimentos, das distinções sociais, etc. Vale Owen não aborda o tema em sua obra, ao menos
na parte que nos foi possível consultar.
Conclui-se a partir dela, entretanto, que a evolução
se processa em diferentes planos espirituais ou em outros planetas.
No que diz respeito ao volume de livros psicografados, não há termos de comparação entre a
produção dos dois médiuns. A obra literária de Chico Xavier deve ser a maior que o mundo
conhece – mais de 400 livros [dado atualizado]. A de Owen, nesse sentido, é modesta: 16
livros durante sua vida e um após seu desencarne, ocorrido em 1931.
Quanto às entidades espirituais que inspiraram tais obras, parece que uma legião se propôs a
trabalhar através de Chico Xavier. O mesmo não ocorreu com Owen: o número de entidades
principais não era grande, embora falassem dos grupos de espíritos que as assessoravam.
Partindo-se para uma ligeira comparação do conteúdo das obras desses dois médiuns, o primeiro
ponto que os leitores poderão observar é o de que a linguagem usada por ambos coaduna-se com
a época em que viveram as entidades espirituais, sendo, muitas, vezes, de difícil
compreensão.
Isso ocorre especialmente nos livros de Owen, devido à construção arcaica das
frases e às expressões antiquadas. Não se pode simplesmente ler esses livros – eles precisam
ser estudados.
Nosso Lar e A Vida Além do Véu
Tanto Owen como Chico Xavier psicografaram narrativas progressivas a respeito da vida após a
morte, descrevendo seus habitantes, os lugares onde vivem, seus meios de locomoção, etc.
No
caso de Chico Xavier, grande parte desses relatos está abrangida na série Nosso Lar, cujo
autor espiritual, que assina sob o pseudônimo André Luiz, foi, quando encarnado, um médico
brasileiro.
Já em relação ao reverendo Owen, as mensagens sobre esse assunto se encontram na
obra The Life Beyond the Veil (“A Vida Além do Véu”, cuja edição em português está esgotada),
subdividida em cinco volumes: The Lowlands of Heaven (“A Parte Baixa do Céu”); The Highlands
of Heaven (“A Parte Alta do Céu”); The Ministry of Heaven (“O Ministério do Céu”); The
Batallions of Heaven (“Os Batalhões do Céu”); e The Outlands of Heaven (“A Parte Exterior do
Céu”).
No primeiro livro da série Nosso Lar, intitulado igualmente Nosso Lar, o autor fala de um
desagradável lugar, denominado Umbral, por onde perambulou durante oito anos após a sua
morte. Nessa região escura, vizinha à Terra, reina o sofrimento. André Luiz tem consciência
de que morreu e conhece a doença que o vitimou, mas dá a impressão de que não sabe quando o
desenlace ocorreu.
Em sua narrativa, diz que tinha fome e sede e que respirava, ainda que com
dificuldade; sentia extremo cansaço, mas, quando deitava para dormir, não conseguia conciliar
o sono, pois vozes de seres estranhos acusavam-no de suicida, o que lhe causava espanto e
ressentimento.
Descrições minuciosas
Enfim, exausto e desesperado, começa a procurar meios de sair desse lugar hediondo. Só
consegue realizar o seu intento quando, ao lembrar-se de Deus, dirige a Ele o seu pensamento,
pedindo auxílio. A ajuda aparece por meio de duas personagens idosas que o conduzem até as
muralhas de uma cidade, que ele vislumbra vagamente.
Ao transpor essas muralhas, André Luiz
encontra-se na cidade espiritual chamada Nosso Lar. Ele é então levado a um hospital, onde
recebe tratamento adequado e explicações sobre o que causou seu suicídio: abusos cometidos em
vida!
Depois de sentir-se mais forte, André Luiz fica conhecendo a cidade. Ele faz descrições
minuciosas sobre casas, ruas e avenidas, colinas e montanhas, bosques e rios, centros de
lazer e de oração, meios de transporte, etc. Também menciona a volitação.
Ao estudarmos a obra de Vale Owen, verificamos que não é tão explícita e que os fatos não
ocorrem tão logicamente como nos livros psicografados por Chico Xavier. No entanto, Owen
também descreve cidades, casas, escolas, templos, colinas, montes, bosques, rios e lagos.
Fala ainda de volitação e de meios de transporte como carruagens puxadas por cavalos guiados
pelo pensamento, e não por rédeas. Ele também se refere a um céu azul-anil e à música
instrumental vinda de um templo ou própria do ambiente – detalhes que não faltam nos livros
de Chico Xavier.
Em suma, ambos transmitem ensinamentos e descrevem o Outro Lado da Vida de forma bastante
diversa daquela apresentada pelas Igrejas Católica e Anglicana e dominante na época. Essas
novidades causaram estranheza e até revolta entre os que leram os livros pela primeira vez.
Suas respectivas igrejas também se insurgiram. Owen teve de abandonar o sacerdócio, e Chico,
que não tinha batina para largar, sofreu um bocado.
Entidades inspiradoras
Há, ainda, um detalhe bastante importante que precisa ser lembrado: os dois médiuns não se
conheceram, não falavam a mesma língua, moravam em lugares distantes um do outro – mas deram
o mesmo recado!
É interessante também falar sobre as entidades espirituais que inspiraram os dois médiuns. A
série Nosso Lar foi ditada, como já dissemos, por um médico brasileiro (André Luiz). Supõe-se
que ele tenha sido Oswaldo Cruz, embora não haja provas a esse respeito. No caso de Vida Além
do Véu, diversas entidades, com nomes estranhos, assinam a obra.
Como o sacerdote inglês era mais incrédulo do que Chico Xavier, insistia em receber
esclarecimentos sobre quem haviam sido quando encarnados. Assim, descobriu que Astriel fora
um diretor de escola em Warwick, na Inglaterra, e que vivera no século 18.
Quanto a Zabdiel,
apesar da insistência de Owen, a entidade recusou revelar sua identidade anterior. Arnel,
mais compreensivo, satisfez sua curiosidade. Ele contou que vivera na Inglaterra no início da
Renascença, mas que, em virtude de perseguições religiosas, transferira-se para a Itália.
Lá,
ele se fixou em Florença, onde ensinou música e pintura. A amanuense de Arnel fora uma
costureirinha em Liverpool, a cidade dos Beatles, bem antes deles.
Em relação aos diferentes planos de existência, nos livros de ambos os médiuns encontram-se
repetidas referências, que abrangem desde os inferiores, mais próximos da Terra, como o
Umbral, até os superiores, onde habitam os espíritos evoluídos.
Setores sombrios
Na obra de Chico Xavier, o plano inferior é descrito na série Nosso Lar e em diversos outros
livros, numerosos demais para citar. Em toda a obra de Vale Owen existem descrições esparsas,
com maior ou menor grau de detalhamento.
Em The Lowlands of Heaven, o autor discorre sobre os
setores escuros e sombrios do abismo que separa “a parte inferior do céu” dos lugares mais
iluminados. Ele também menciona a ponte que as entidades sofredoras atravessam para chegar
aos planos superiores.
Essa ponte mais se assemelha a uma cordilheira, ao longo da qual há
casas que recolhem e auxiliam os viajantes durante sua longa caminhada. Alguns desses
pormenores podem ser também pinçados das obras de Chico Xavier.
Outro ponto comum a ambas as obras é o que trata dos grupos socorristas. Tais grupos são
compostos de espíritos evoluídos que se dedicam ao auxílio dos que se acham vagando nas
regiões escuras.
Esses espíritos mais iluminados habitam planos elevados, onde existem
escolas, universidades, hospitais e até ministérios para cuidar da parte administrativa. O
que se observa nesses locais é a intensa e ininterrupta atividade das entidades espirituais.
Em lugar algum percebem-se espíritos em êxtase, em perene adoração ou simplesmente em
repouso.
Esses grupos socorristas ainda prestam auxílio aos encarnados em dificuldades.
O pensamento como força criadora
Há um aspecto curioso nas mensagens desses dois médiuns: ambos falam de homens e mulheres que
morreram e que, no entanto, não sabem que estão mortos. Isso ocorre porque se sentem tão
vivos como quando estavam encarnados.
Falam, ouvem, têm fome, sede e sono, sentem cansaço ou
dores, andam num chão parecido com o da Terra, etc. Não é de se admirar, pois, que não
compreendam que já romperam os laços que os ligavam a seus corpos físicos. Como André Luiz,
passam por uma etapa penosa.
Um dos fatores que dificultam a sua aceitação é a ausência de
preparação para a vida além-túmulo durante o tempo em que permaneceram encarnados.
Se foram membros de alguma Igreja, aprenderam que há um Céu, um Inferno e um Purgatório, mas
não puderam dispor de relatos nítidos acerca desses lugares.
Se integraram outras seitas,
aprenderam que o fiel dormirá até o dia do Juízo Final, quando soará uma trombeta.
Condicionados a acreditar no que seus respeitável pastores espirituais ensinaram, não supõem
que já se transferiram para o Outro Lado.
Precisam, então, conscientizar-se de que estão
mortos e aceitar o fato como irreversível – tarefa executada pelos espíritos socorristas.
Ao lado desses existem, contudo, os mortos que são perigosos aos vivos: os que foram
violentamente lançados no Mundo Espiritual com as mentes cheias de ódio e terror e possuídos
pelo desejo de desforra. ,
Assassinados por inimigos particulares ou vítimas de guerras,
perambulam num plano adjacente à Terra, procurando seus algozes para se vingar.
Vale Owen fala desses mortos no quinto volume – The Outlands of Heaven, de autoria de
Zabdiel. Encontramos aí uma entidade bastante evoluída, que poderia permanecer em planos
elevados, mas que se entrega à dura tarefa de auxiliar esses desencarnados que tanto
necessitam de ajuda.
Vingança cruel
Descobrem-se explicações semelhantes na obra de Chico Xavier. Os que conhecem os trabalhos
executados nas sessões de desobsessão sabem que os obsessores em geral são entidades
espirituais que procuram se vingar de males infligidos anteriormente por aqueles que agora
obsediam.
Trata-se de uma vingança cruel, pois muitos casos de loucura são provocados por
obsessores. Estes últimos precisam ser afastados por meio de trabalhos mediúnicos em sessões
especializadas, para efetuar-se a cura do paciente.
Ajudam nesses trabalhos os mentores ou
instrutores espirituais que Chico cita em suas obras e Owen, no seu quinto livro. Todavia,
além do afastamento do espírito obsessor, o obsediado precisa fazer sua parte através de uma
higiene mental que compreende os bons pensamentos, a concessão do perdão, etc.
Chegamos, assim, a outro postulado que aparece em ambas as obras: o de que o pensamento age
como uma força criadora. Esclarecem os dois médiuns, exemplificando por meio de casos
específicos, que os bons pensamentos modificam o ambiente, curam os males físicos, criam um
bem-estar duradouro e induzem à felicidade.
Enquanto isso, os pensamentos negativos produzem
ambientes negativos, gerando a infelicidade.
Por fim, resta-nos frisar que, apesar das inúmeras semelhanças, há, como dissemos antes, uma
diferença fundamental na filosofia de uma e de outra obra: a importância da reencarnação.
Vale Owen não se refere a ela como uma forma de educar o espírito.
Já para Chico Xavier e os
espíritos que inspiraram suas obras, a reencarnação constitui o princípio, o meio e o fim,
pois por meio dela os espíritos aprendem, evoluem e se elevam a esferas superiores,
conquistando uma luz cada vez mais intensa.
Link original da matéria:
https://www.revistaplaneta.com.br/vida-depois-da-vida-as-revelacoes-de-vale-owen-e-chico-xavier/
https://youtu.be/R5aErBXUHl8