Coronel Marcelo

Aeroporto a venda?

O fim do Sonho do Aeroporto Internacional de Goiânia ?

O Aeroporto Internacional de Goiânia – Santa Genoveva - possui uma trajetória que reflete o desenvolvimento e a modernização da capital goiana ao longo das décadas, mas que está com sérios problemas na sua atual trajetória.

Nos anos 1930, o primeiro aeroporto de Goiânia foi estabelecido em uma área entre o Setor Campinas e o centro da cidade, atualmente conhecida como Setor Aeroporto e estava localizado onde hoje é a Praça Santos Dumont, popularmente conhecida como Praça do Avião.

Este aeroporto possuía duas pistas de pouso e decolagem que se cruzavam em formato de cruz, uma das quais posteriormente deu lugar à Avenida República do Líbano.

Com o crescimento urbano, tornou-se evidente a necessidade de uma infraestrutura aeroportuária mais adequada.

Em 1955, foi inaugurado o Aeroporto Santa Genoveva, situado na região nordeste de Goiânia, a aproximadamente oito quilômetros do centro.

A escolha do nome “Santa Genoveva” homenageia Dona Maria Genoveva de Moura Pacheco, mãe de Altamiro de Moura Pacheco, um dos doadores do terreno para a construção do aeroporto.

Em 1962 houve a inauguração de um novo terminal de passageiros com 1.200 m² e implantação de um Núcleo de Proteção ao Voo pelo Ministério da Aeronáutica.

A partir de 1974, houve a transferência da administração para a Infraero, que realizou a recuperação da pista e ampliou o terminal de passageiros.

Com o aumento da demanda, iniciou-se em 2005 a construção de um novo terminal.

E começaram os pesadelos.

As obras foram interrompidas em 2007 devido a irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), incluindo indícios de sobrepreço e outras inconsistências.

Durante o período de paralisação, a Infraero e o consórcio responsável pela obra trabalharam na atualização dos projetos e na resolução das questões apontadas pelo TCU.

Em julho de 2011, o TCU retirou o índice de irregularidade grave com paralisação (IGP) das obras, permitindo a retomada dos trabalhos.

As obras foram efetivamente retomadas em 2013, após a aprovação dos projetos atualizados pelo TCU.

Em 2014, o Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) solicitou a devolução de R$ 122 milhões referentes às obras do aeroporto, devido a indícios de superfaturamento e outras irregularidades.

Mesmo assim, o novo terminal foi inaugurado em 9 de maio de 2016, ampliando significativamente a capacidade operacional do aeroporto e oferecendo instalações modernas para os passageiros, com o novo terminal dispondo 34,1 mil m², quatro pontes de embarque e capacidade para atender até 6,5 milhões de passageiros por ano, além de melhorias significativas nas áreas de estacionamento e circulação na área aeroportuária.

Mesmo assim, o governo municipal não melhorou as saídas e acessos ao aeroporto, sendo que a principal rota do aeroporto para a cidade ou é pela Rodovia BR 153, com trânsito intenso e perigoso, ou pela triste realidade da Avenida Perimetral Norte, totalmente sem condições há muitos anos, apesar do trabalho de “reforma” do asfalto em 2023 que não foi concluído.

Além disso, a sinalização viária é ruim, existem retornos de vias que quase fazem os veículos colidirem de frente e áreas sem nenhum tipo de iluminação noturna, ou que, existindo, não estão funcionando a contento.

Finalmente, a Certificação Internacional foi conseguida em 17 de agosto de 2020, tendo o aeroporto recebido certificação para operações internacionais regulares e não regulares de passageiros e cargas, ampliando sua relevância no cenário aéreo nacional, fato que nunca se concretizou até abril de 2025.

Em 7 de abril de 2021, durante a 6ª rodada de concessões aeroportuárias promovida pelo Governo Federal, o Grupo CCR venceu o leilão para administrar o aeroporto por um período de 30 anos.

A proposta vencedora foi de R$ 754 milhões, representando um ágio de 9.156% sobre o lance mínimo estabelecido.

A transferência oficial da gestão ocorreu em 24 de março de 2022, quando a CCR Aeroportos assumiu a operação do Aeroporto de Goiânia, juntamente com os aeroportos de São Luís e Teresina.

Desde então, a concessionária implementou diversas melhorias, incluindo a modernização da infraestrutura, ampliação da oferta de lojas e serviços, e aprimoramentos na sinalização e limpeza.

Além disso, em outubro de 2024, foram entregues obras de modernização que contemplaram a ampliação do terminal de passageiros e a inauguração do primeiro terminal de cargas 100% refrigerado do país, com investimentos totais de R$ 65 milhões.

Porém, a operação do aeroporto não demonstra capacidade de sustentação econômica para a empresa nos próximos anos.

Venda de aeroportos: o que está em jogo?

A CCR planeja leiloar 20 de seus terminais, incluindo o de Goiânia, com expectativa de arrecadar entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões.

Operadoras renomadas, como Fraport, Zurich, Vinci e Aena, além de grupos latino-americanos como o Grupo Aeroportuario del Pacífico (GAP) e a Corporación América Airports, demonstraram interesse. Essa movimentação pode redefinir o futuro do aeroporto e da economia regional.

Impactos para Goiás e os goianos

Em 2024, o Aeroporto de Goiânia registrou um recorde histórico de movimentação, com cerca de 3,5 milhões de passageiros .

Além disso, a CCR concluiu um investimento de R$ 65 milhões em melhorias, incluindo a inauguração do primeiro terminal de cargas 100% refrigerado do país, destinado principalmente a cargas farmacêuticas e hospitalares.

Esses investimentos visam não apenas aprimorar a infraestrutura existente, mas também posicionar o aeroporto como um hub logístico estratégico.

Investimento para receber voos internacionais

Embora o aeroporto tenha sido certificado para operações internacionais em 2020, a efetivação de voos regulares para o exterior ainda não se concretizou.

As recentes melhorias na infraestrutura, especialmente com a ampliação do terminal de passageiros e a modernização dos sistemas operacionais , podem facilitar a atração de companhias aéreas internacionais.

No entanto, a realização de voos internacionais regulares dependerá de negociações com as companhias aéreas e da demanda de passageiros, assim como a verificação da capacidade de infraestrutura básica para aeronaves de maior porte.

E o antigo terminal? O que aconteceu?

Após a inauguração do novo terminal de passageiros do Aeroporto Santa Genoveva em 2016, o antigo terminal, localizado no bairro Santa Genoveva, em Goiânia, foi desativado para voos comerciais regulares.

Desde então, a estrutura tem sido utilizada de forma limitada, principalmente para operações da aviação geral e da NAV Brasil, empresa responsável pelo controle do espaço aéreo brasileiro.

No entanto, relatos recentes indicam que o antigo terminal se encontra em estado de abandono, com sinais de deterioração e falta de manutenção adequada.

A administração do Aeroporto de Goiânia confirmou que a área não está em uso regular e que está sob avaliação para possíveis futuras utilizações.

Essa situação tem gerado preocupações entre os moradores locais e autoridades, que veem potencial para a revitalização do espaço, seja para fins logísticos, comerciais ou comunitários.

A definição sobre o destino do antigo terminal ainda está em discussão, aguardando estudos e decisões por parte das entidades responsáveis.

O Aeroporto de Cargas de Anápolis, um “elefante branco”?

Mesmo com a ampliação e a reestruturação do aeroporto de Goiânia, em 2010 o Governo do Estado de Goiás iniciou a construção do Aeroporto de Cargas, em Anápolis, como parte de uma iniciativa de estabelecimento de uma plataforma logística multimodal na cidade.

Nem uma coisa nem outra foi para a frente.

A situação do Aeroporto de Cargas de Anápolis adiciona uma camada de complexidade ao panorama logístico de Goiás.

O projeto do Aeroporto de Cargas, várias vezes inaugurado, já consumiu mais de R$ 400 milhões, mas permanece inoperante devido a falhas estruturais e problemas ambientais.

A pista apresenta erosões significativas, especialmente na cabeceira, comprometendo sua funcionalidade.

Em 2024, o Governo de Goiás negociou a federalização do aeroporto, transferindo sua gestão para a Infraero, com a expectativa de investimentos e melhorias.

Contudo, a Infraero sinalizou que, por questões ambientais, não realizaria os investimentos previstos, levando o governo estadual a retomar a gestão do terminal, sem melhores investimentos que seriam necessários.

Ou seja, é um aeroporto de cargas somente na imaginação.

O Polo Aeronáutico Antares

Para complicar um pouco mais, foi iniciado o projeto Antares Polo Aeronáutico, localizado em Aparecida de Goiânia, Goiás, a menos de 40 km de distância do Aeroporto de Goiânia, e que vem sendo desenvolvido há aproximadamente 10 anos, enfrentando desafios relacionados a aprovações legais e burocráticas.

As obras tiveram início em 15 de julho de 2021, marcando o começo da construção do primeiro polo aeroportuário privado do Centro-Oeste brasileiro.

A pedra fundamental do empreendimento foi oficialmente lançada em 19 de outubro de 2021.

Com investimentos iniciais estimados em R$ 100 milhões, o projeto é liderado por um consórcio de empresas goianas, incluindo Tropical Urbanismo, Innovar Construtora, CMC Engenharia, BCI Empreendimentos e RC Bastos Participações.

Recentemente, o grupo firmou parceria com a Infraway Engenharia, especializada em projetos de infraestrutura aeroportuária de alta complexidade, visando aprimorar ainda mais o desenvolvimento do polo.

Apesar de não competir com as grandes operadoras aéreas nacionais ou estrangeiras, o projeto Antares pode tirar a aviação executiva do Aeroporto de Goiânia, assim como parte das instalações de manutenção de aeronaves.

O papel da sociedade civil e a necessidade de diálogo

Diante dessas mudanças, é crucial que a sociedade goiana se envolva ativamente nas discussões sobre o futuro do Aeroporto de Goiânia.

A venda da concessão do terminal não é apenas uma transação comercial, mas uma questão de interesse público que afeta a conectividade e o desenvolvimento econômico da região.

Pode representar tanto desafios quanto oportunidades.

Com investimentos recentes e uma infraestrutura modernizada, o terminal está mais preparado para expandir suas operações e, potencialmente, receber voos internacionais.

O engajamento da sociedade e das autoridades locais será determinante para assegurar que essas mudanças beneficiem a população e promovam o desenvolvimento sustentável de Goiás.

Entretanto, em tempos de possível recessão econômica no horizonte, o universo de tempo e uso do dinheiro não parece estar ajudando.

A falta de planejamento de longo prazo e de preocupação dos governos Federal, Estadual e Municipal para o segmento do transporte aéreo em Goiás pode ser bem compreendida com os casos do “Aeroporto de Cargas de Anápolis”, a concessão de aeródromos privados e a atual situação da concessão do Aeroporto de Goiânia para o consórcio CCR.

Essa conjuntura ressalta a necessidade de um planejamento integrado e investimentos consistentes para que tanto o Aeroporto de Goiânia quanto o de Anápolis possam desempenhar plenamente seu papel no desenvolvimento econômico e na conectividade de Goiás.

O cidadão goiano parece que, mais uma vez, está sendo colocado à margem dos acontecimentos e vendo seus interesses e o dinheiro dos seus impostos negligenciados

Por Cel Carlos Marcelo Cardoso Fernandes

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  • Marcelo Fernandes

    Coronel Intendente da Reserva da Aeronáutica; Administrador de Empresas; Especialista em Orçamento, Planejamento e Gestão Pública; Especialista em Logística Empresarial. Hoje é tambem uma grande autoridade no assundo de Drones e suas legislações do bom uso.

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