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A falta do Projeto de Lei 2564/2020

Pandemia faz 470 profissionais de enfermagem procurarem atendimento

Psicológico na Bahia. Em julho, estado ficou atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina

Toda vez que chega ao trabalho o enfermeiro Alessandro Nascimento*, 36 anos, tem um ritual. Primeiro, ele faz o sinal da cruz, uma espécie de benção, e pede proteção para Deus.

Depois, segue para o vestiário para começar a compor a vestimenta da labuta. Nesta quinta-feira (13), dia em que a pandemia completa cinco meses em curso, o 7 Minutos apurou que 8.435 profissionais de enfermagem na Bahia foram afastados do trabalho por terem sido infectados com o novo coronavírus, e outros 470 procuraram ajuda psicológica devido ao estresse provocado pela pandemia.

Quando Alessandro escolheu a enfermagem como profissão não imaginava que passaria por isso. Ele contou que no começo da pandemia, em março, teve que lidar com problemas como a falta de Equipamentos Individuais de Proteção (EPIs), a possibilidade de faltar medicamentos, e a sobrecarga de trabalho. E que essa rotina somada ao afastamento da família provocou picos de estresse e o deixou doente.

Ele não procurou um psicólogo, mas precisou se afastar das atividades por alguns dias.

“Foi uma série de sentimentos e sensações. Eu me sentia cansado e ao mesmo tempo frustrado, e com medo. Fiquei afastado da minha família por causa do risco de contaminação e isso tudo abalou o meu psicológico. Muitas dores de cabeça, suor, e mãos trêmulas. Sintomas de ansiedade. Precisei me afastar, e voltei depois de alguns dias” contou.

Ele disse que está bem e trabalhando um pouco mais tranquilo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou oficialmente o estado de pandemia mundial em 13 de março, mas o primeiro caso de covid-19 foi registrado na Bahia no dia 6 daquele mês, em Feira de Santana. De acordo com os dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) divulgados nesta terça-feira, 17.084 profissionais de saúde testaram positivo para covid-19.

Ajuda

“Segundo a presidente do Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (Coren-BA), Maria Inez Farias, a experiência que Alessandro viveu é mais comum do que se imagina.”

Nesses cinco meses, 470 profissionais procuraram o serviço criado pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) que oferece apoio emocional através do portal do Cofen.

O programa Enfermagem Solidária chegou a atender 130 trabalhadores por dia em todo o país, em abril. Os atendimentos são feitos por especialistas em saúde mental e duram de 20 a 55 minutos.

Em julho, a Bahia ficou atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. Mesmo assim, a subnotificação é grande porque muitos trabalhadores não procuram ajuda. As Secretarias da Saúde da Bahia e de Salvador também abriram canais para oferecer esse tipo de atendimento.

“Essa doença é permeada o tempo todo pelo medo. O medo de se contaminar e adoecer. O medo de levar a doença para casa e contaminar os familiares, e ser responsável pela morte de uma pessoa querida. Esse é um medo muito constante, muito falado pelos profissionais, de levar a doença para casa. E isso mexe com o bem estar das pessoas. Muitos precisaram de ajuda e em alguns casos foi necessário o afastamento”, contou.

Trabalhadores com mais de 60 anos e com problemas crônicos de saúde fazem parte do grupo de risco e devem ser afastados, mas nem todos os hospitais seguiram a regra e foi preciso acionar a justiça.

  • No total, 8.435 profissionais de enfermagem contrariam a doença, sendo 5.363 técnicos e 3.112 enfermeiros contaminados.
  • Foram 11 mortes no exercício da função até agora.

Um comitê de trabalho foi formado no estado com a participação do Coren e de outras entidades de classe e órgãos públicos para acompanhar e fiscalizar atividades como a distribuição de EPIs, e jornadas e condições de trabalho. O resultado foram 255 manifestações recebidas e 160 instituições denunciadas, em 66 municípios.

Cenário

  • São 136.642 profissionais de enfermagem na Bahia, sendo:
  • 39.286 enfermeiros,
  • 84.355 técnicos,
  • 12.998 auxiliares e três obstetrizes (parteiras).

Adriana Assis, 48, é técnica de enfermagem.

“É uma luta. É uma área importante para a saúde, nós que ficamos mais tempo ao lado dos pacientes, mas somos pouco valorizados. Foi bonito ver a população aplaudindo o nosso trabalho, mas continuamos com salários baixos e sem condições adequadas de trabalho”, afirmou.

Em maio, o número de profissionais de enfermagem contratados na Bahia foi 70% maior que no mesmo período do ano passado, mas faltam avanços em outros aspectos.

O Coren registrou casos de enfermeiros sendo contratados em municípios do interior do estado com salários de R$ 1.040.

O Projeto de Lei 2564/2020 que pretende instituir um piso salarial para a categoria ainda está tramitando no Senado.

“A diretora presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia (Seeb), Lúcia Duque, contou que os baixos salários são queixas constantes dos trabalhadores, assim como sobrecarga de trabalho, e assédio moral. Somados, esses problemas também contribuem para o adoecimento mental.”

“Os baixos salários fazem com que esses profissionais tenham mais de um vínculo empregatício e isso afeta a saúde desses trabalhadores. Nós não temos piso salarial e nem temos carga horária. O medo de contrair a doença e de transmitir para os familiares é constante. E como ainda não temos uma vacina, o profissional da saúde entra em uma zona de insegurança muito grande, por isso, é preciso que os hospitais fiquem atentos e façam esse acompanhamento”, disse.

Ela defende a testagem em massa dos trabalhadores da saúde como uma medida para reduzir o estresse e a ansiedade causados pela pandemia. “A testagem é fundamental. Isso garante a segurança da assistência e também do profissional, por isso, deve ser feita a cada 21 dias”, afirmou.

Desde que a pandemia começou, a Bahia registrou 198.767 casos da doença.

Nesta terça-feira (11), a Secretaria da Saúde da Bahia informou que:

  • 180.488 pessoas estão curadas,
  • 14.212 estão sendo acompanhadas e outras
  • 4.067 morreram.

Sempre é preciso defender o profissionalismo e a valorização do profissional. Essas são as bases de uma economia saudável, e sem esses esforços as profissões estão fadadas a desaparecer.

*Ele pediu para não ser identificado e, por isso, usamos um nome fictício.

Redação 7Minutos Salvador Bahia

Nesta quinta-feira (13), dia em que a pandemia completa cinco meses em curso, o 7 Minutos apurou que 8.435 profissionais de enfermagem na Bahia foram afastados do trabalho por terem sido infectados com o novo coronavírus, e outros 470 procuraram ajuda psicológica devido ao estresse provocado pela pandemia.
A diretora presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia (Seeb), Lúcia Duque
Presidente do Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (Coren-BA), Maria Inez Farias
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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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