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o retorno nos “braços do povo”

Cartas na mesa

O estudo da história nos permite tentar entender o passado para explicar o presente, mas, acima de tudo, aprender lições e não repetir erros cometidos.

25 de agosto de 1961 seria mais um dia quente e seco na Capital Federal, mas essa data estaria reservada para testemunhar algo que ainda não havia sido presenciado na dramática história política brasileira.

Jânio Quadros, Presidente do Brasil eleito para o período 1961-1965, vivia seu próprio inferno astral.

Não conseguia apoio no Congresso Nacional para suas grandes reformas, nem mesmo do seu partido (UDN); não conseguia se entender com seu vice-presidente, muito popular, mas de outro partido (à época a legislação eleitoral permitia que se votasse no Presidente e no Vice-Presidente separadamente) e que estava em viagem diplomática para a China.

Na noite anterior, 24 de agosto, o Governador da Guanabara (estado que sucedeu ao Distrito Federal no Rio de Janeiro após a inauguração de Brasília), Carlos Lacerda, em pronunciamento na TV Rio, denunciava que o Presidente estaria planejando um golpe para colocar o Congresso Nacional em “recesso remunerado”.

Era o mesmo Carlos Lacerda que há exatos seis anos antes fora o pivô da crise que levara Getúlio Vargas ao suicídio.
Diante de tantas dificuldades, Jânio Quadros escreveu a seguinte carta, justificando seu derradeiro ato como Presidente do Brasil:

“Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores.

Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.

Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior.

Sinto-me, porém, esmagado.

Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.
Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.

Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.

Saio com um agradecimento e um apelo.

O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade.

O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos e de todos para cada um.
Somente assim seremos dignos deste país e do mundo.

Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã.

Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor.

Trabalharemos todos.

Há muitas formas de servir nossa pátria.” (disponível em https://www.recantodasletras.com.br/cartas/855183)

Até hoje se discute a real finalidade desse ato.

Estaria ele querendo o retorno nos “braços do povo” ou realmente havia se cansado de tudo?

O fato é que a renúncia de Jânio provocou um tsunami político que redundaria na crise de 1964 e todo o resto que se conhece.

Ele voltaria à vida pública pela última vez, em 1986 como Prefeito de São Paulo.

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Carlos Marcelo Cardoso Fernandes. Coronel Intendente da Reserva da Força Aérea, é Administrador de Empresas com atuação por mais de 22 anos na Administração Pública Federal. É Auditor Interno, Historiador e um cidadão brasileiro e colunista do Portal 7 Minutos.

Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria. Reprodução
Somente assim seremos dignos deste país e do mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã. A imprensa da época noticiou tal alto . Reprodução
Carlos Marcelo Cardoso Fernandes. Coronel Intendente da Reserva da Força Aérea, é Administrador de Empresas com atuação por mais de 22 anos na Administração Pública Federal. É Auditor Interno, Historiador e um cidadão brasileiro e colunista do Portal 7 Minutos. Arquivo Pessoal

https://youtu.be/iCqYnuNSVTM

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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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