EXCLUSIVO: Parte 3
Odebrecht fez pagamentos a Toffoli, denuncia Marcelo Odebrecht à PGR
O empreiteiro Marcelo Odebrecht disse à Procuradoria-Geral da República que seu grupo empresarial mantinha um acerto ilícito com o então advogado-Geral da União, Dias Toffoli, e que fazia pagamentos a ele no decorrer do segundo mandato de Lula, entre 2007 e 2009.
A Odebrecht queria assegurar a manutenção da parceria com Furnas ao participar do leilão, o que conseguiu em parte graças a um parecer de um subordinado de Toffoli. Mas precisou ceder bastante em outras frentes de um processo complexo, que envolveu órgãos do Ministério da Justiça e de Minas e Energia. Fontes que participaram dessas negociações afirmam que a Odebrecht perdeu mais do que ganhou na condução prévia do leilão. Chegou em condições menos competitivas do que esperavam os executivos do grupo. Teve que pagar um deságio alto para vencer o leilão. Mas, ao cabo, atingiu o objetivo de vencer o leilão, em dezembro de 2007. Às vésperas dele, Toffoli organizou uma força-tarefa na AGU para derrubar possíveis liminares que suspendessem o ato.
Fontes com conhecimento direto do contrato entre Odebrecht e o escritório de Sérgio Renault afirmam que, mesmo com uma cláusula de sucesso, o valor pago à banca não passou de R$ 1 milhão. Também afirmam que Maurício Ferro era o principal executivo da área jurídica, assim como de negociações suspeitas ou potencialmente ilegais com advogados. As evidências disponíveis sobre as operações nacionais e internacionais de lavagem de dinheiro associadas direta ou indiretamente a Ferro corroboram essas asserções.
“Ele não quer o dele?”
Entre 2008 e 2010, a Odebrecht, por meio de seus principais executivos, trabalhou intensamente junto ao governo, ao Congresso e aos tribunais superiores para obter benefícios tributários. Esse conjunto de ações ficou conhecido como “Refis da crise”. Envolvia, sobretudo, a edição de Medidas Provisórias e a manutenção delas no Congresso e nos tribunais. Esses fatos envolveram o pagamento de propina a, entre outros personagens de Brasília, ministros e ex-ministros como Guido Mantega e Antônio Palocci, além de parlamentares de múltiplos partidos, em especial do PMDB. As evidências apontam que Maurício Ferro e o lobista Cláudio Melo Filho eram os encarregados de atuar perante os tribunais superiores, de modo a manter ou derrubar medidas de interesse da Odebrecht.
Marcelo Odebrecht e os demais diretores da empresa sempre se referiam a Toffoli como “amigo de Adriano” ou alguma variação disso, como “amigo de AM (Adriano Maia)”. Esse codinome decorria dos episódios das tratativas no caso do Rio Madeira. Estivesse o advogado envolvido ou não em novas negociações, o apelido pegara. Era usado com frequência.
Em três de fevereiro de 2009, o lobista Cláudio Melo disse aos demais ter informações de que o “amigo de Adriano Maia estaria trabalhando contra” uma medida de interesse da Odebrecht. Newton de Souza, outro diretor que sempre estava a par dessas negociações, pediu a Adriano que atualizasse Maurício Ferro e Cláudio Melo “sobre em que ponto pararam as conversas”. Disse Newton: “Acho bem possível que esteja criando dificuldades”. Referia-se a Toffoli.
Numa troca de emails em 26 de maio, Marcelo e seus subordinados discutem estratégias para impedir vetos iminentes do governo a pontos da MP 449, que beneficiava a Odebrecht. Cláudio Melo frisou que as posições da AGU, à época ocupada por Toffoli, e da Casa Civil eram fundamentais para evitar os vetos. Seguiu-se uma discussão: Maurício Ferro achava desnecessário e preferia fazer pressão diretamente no Planalto. Marcelo disse que queria uma atuação na “linha de AM”.
No email abaixo, o delator diz, em síntese, que achava mais eficaz atuar junto ao Planalto antes de “chegar lá no Olimpo (Supremo)”. Ele diz que não terá sucesso se falar com Mantega, então ministro da Fazenda (“ex-casa do italiano”). E pergunta aos demais se não se poderia possível criar argumentos jurídicos para que Adriano Maia buscasse “nossos ‘amigos’” na advocacia da Fazenda e da Casa Civil (“moça” é Dilma, então titular da pasta).
Marcelo pede a Adriano para avaliar com “SR” (Sérgio Renault, segundo ele) se “não seria o caso” de ele, Marcelo, se encontrar com “ele e ela para reforçar o tema”. Ele é Renault; ela é Dilma.
A parte mais importante do email vem em seguida. Ele indica a Maurício Ferro (“MF”) e Bernardo Gradin (“BG”), então presidente da Braskem, que haveria propina para resolver a situação. “DGI” é o termo que a Odebrecht usava antigamente para propina. Escreveu Marcelo: “MF/BG: estejam alertas ao DGI decorrente da linha AM (Adriano Maia). Não costuma ser baixo, até porque o intermediário que me foi qualificado por eles para negociar estes temas, cobra e bem a parte dele.
*Por Vortex Media
https://vortex.media/justica/36651/exclusivo-odebrecht-fez-pagamentos-a-toffoli-quando-ele-era-advogado-geral-da-uniao-disse-marcelo-odebrecht-a-pgr/
O empreiteiro Marcelo Odebrecht disse à Procuradoria-Geral da República que seu grupo empresarial mantinha um acerto ilícito com o então advogado-Geral da União, Dias Toffoli, e que fazia pagamentos a ele no decorrer do segundo mandato de Lula, entre 2007 e 2009. Foto: Agência Brasi[/caption]
Marcelo prossegue. Quer uma solução: “Se for para resolver (o problema que ele criou no S e os vetos) acho que T e R valem até mesmo o número da chantagem deles”.[/caption]
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Como o assunto em questão envolvia o interesse de grandes empresas, e não só da Odebrecht, Marcelo combinara com o ex-ministro que outros empresários contribuiriam na propina.[/caption]
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A troca de emails se encerrou assim: Nos emails, Marcelo se refere à “meta” de Renault: vencer ou postergar o julgamento no Supremo e os “vetos (de uma MP) do jeito que queremos”.[/caption]



