Fizemos de tudo. Todos sabem!!!
Prefeitura decreta lockdown de 10 dias
Medida é a mais dura já tomada desde o início da pandemia. Não existem mais leitos de UTI disponíveis

Embora a palavra “lockdown” não tenha sido citada é isso que deve ocorrer nos próximos 10 dias, de acordo com entrevista coletiva concedida no miniauditório da prefeitura.
Sem leitos de UTI disponíveis, nem na rede pública nem na rede particular de saúde, a ordem é quebrar o ciclo de transmissão durante esse período fechando o comércio em Anápolis.
A medida é a mais dura já adotada desde o início da pandemia e afeta também as indústrias. O prefeito Roberto Naves explicou que esse é um decreto extraordinário que substitui, nesse período, a chamada “matriz de risco” que norteava os decretos anteriores.
“Não importa quem é contra e não importa quem é à favor, nem importa quem vai para as redes sociais falar besteira. Só o que importa agora é ficar em casa porque não há mais vagas nos hospitais”, disse ele em tom severo.
Durante quase uma hora, Roberto teceu explicações detalhadas sobre a situação de Anápolis. Lembrou que os procedimentos adotados até agora são referência para o Brasil, mas que não há, no momento, outra alternativa para conter a pandemia.
“Fizemos de tudo. Todos são testemunhas. A nossa cidade foi a que mais cresceu e gerou empregos no Estado em 2020, em plena pandemia, e a 12a do país nos mesmos quesitos. Preservamos a economia enquanto foi possível, mas agora é hora de salvar vidas”, disse ele.
Naves também lembrou que, mesmo ao tomar essa decisão, levou em conta o aspecto econômico.
Embora sejam 10 dias de total paralisação, apenas cinco são dias úteis.
Ao lado da equipe médica, do vice-prefeito Márcio Cândido e do presidente da Câmara Leandro Ribeiro, Roberto pediu o esforço de todos para que a situação possa ser controlada nesse período e que medidas ainda mais duras não sejam necessárias.
Novas cepas
Utilizando gráficos e números, Roberto Naves mostrou aos jornalistas como as novas cepas do Coronavírus são diferentes da original.
Para se ter uma ideia de como a situação se agravou de forma impressionante nos últimos sete dias, havia apenas 15% de pessoas com menos de 30 anos ocupando leitos de UTI em Anápolis. Hoje, elas representam 50%, inclusive em relação aos óbitos.
“A doença está levando de forma igualmente rápida, jovens e idosos, para os respiradores. E pior… enquanto antes levava-se 13 dias para alcançar o estado crítico, agora os médicos estão entubando pessoas com sete dias de internação”, relatou.
O prefeito disse ainda que vai continuar trabalhando para ampliar o número de leitos.
Mas pediu para que a população pense de modo diferente, para se sentir estimulada a manter o isolamento. De acordo com ele, de cada 10 pacientes que vão para a UTI, seis morrem.
“Mesmo que consigamos mais leitos, essa solução é paliativa, porque as pessoas vão continuar morrendo. A única forma conhecida de fazer baixar o número de óbitos é evitar a transmissão através do isolamento. E não adianta ter leitos se também não há mais profissionais para tratar essas pessoas. Estão todos ocupados e já sobrecarregados”, reafirmou.
Lágrimas
Por fim, Roberto fez um agradecimento à imprensa e aos profissionais da área de saúde, tanto da rede pública quanto da particular, que têm doado suas vidas ao enfrentamento à doença. Nessa hora, o prefeito embargou a voz.
“São pessoas que trabalham até desmaiar e, mesmo assim se frustram ao ver os pacientes morrendo. Existem médicos que não aguentam mais dar, dezenas de vezes, a notícia da morte de seus pacientes para as famílias”, relatou.
Preocupado em esclarecer a enfatizou que nem o fato de ser jovem ou de ter dinheiro podem garantir a sobrevivência de mais ninguém. Nem mesmo o recurso de poder procurar tratamento em outra cidade ou estado. É um problema nacional.
“Peço que recorram ao amor ao próximo que existe em cada um para que fiquem em casa e cuidem de quem vocês amam. E peçam à Deus para que isso melhore. Estamos diante da fase mais grave da pandemia até agora”,
finalizou às lágrimas, deixando o miniauditório para outra reunião.
Decreto extraordinário
Em breve resumo, a equipe técnica sanou dúvidas de jornalistas sobre alguns pontos do decreto extraordinário.
“Em regra, nada abre ou funciona, exceto supermercados, postos de combustível, farmácias, o transporte coletivo, indústrias de alimentos, farmacêuticas ou que produzem outros insumos para a saúde e o setor de urgência e emergência dos hospitais.”
Nem mesmo consultas médicas ou cirurgias eletivas serão permitidas. De sexta-feira às 19h até 4h do dia 15 é lock lockdown.
Enquanto isso, funcionarão normalmente as entregas dos restaurantes e lanchonetes.
Na construção civil, depósitos de material poderão fornecer apenas para a rede pública de saúde.
Os postos de vacinação também vão continuar em sistema drive-thru.
Na semana que vem, pessoas acima de 70 anos já poderão ser vacinadas
De José Aurélio Soares

