Brasigóis Felício

Diário da pandemia intermitente 94

O desgoverno do mundo, depois da visita à Ilha do Governador

“Um a um, foram tombando todos os meus exércitos”, até que eu fiquei sem vontade de entrar em brigas venais.

*

A razão entra em parafuso, e a liberdade é guilhotinada, quando a mediocridade forma brigadas de resistência e feroz ataque ao senso comum, e à beleza ainda possível, nestes tempos conflagrados.

*

Há pessoas tão falsas, que, quando estamos perto, nos flambam a banana, mas quando estamos distantes, nos esculhambam pra caramba, e nos mandam a mutamba.

*

Minha primeira (e até agora única) viagem à ilha do Governador, decorreu na amável companhia de pessoas muito queridas a mim: minha mulher, minha mãe, minha tia Geralda, a irmã Águida, e meus filhos.

Uma renca inteira resolveu tirar férias no Rio de janeiro. Naqueles tempos, mesmo sendo eu jornalista e barnabé, da Prefeitura de Goiânia, era possível pagar passagem de avião, alugar apartamento perto da praia, em Nossa Senhora de Copacabana. Foi onde ficamos, por quinze bons, memoráveis aprazíveis dias.

Todos acharam a ilha do Governador encantadora. A viagem, de barco, trevessando aquele marzão besta – em verdade, a Baía de Guanabara, cantada em prosa e verso da MPB, e também por cronistas do Rio antigo.

A ilha, em si, nos pareceu ser um recanto de paz. Um anacronismo de onde era possível ver e quase ouvir o tumulto da cidade vertiginosa. Casario antigo, da que era então uma cidade-dormitório, onde só se trafegava a pé ou de charrete.

Não sei se, decorrido tantos acontecimentos tenebrosos da política, em um Rio de Janeiro que é um celeiro de intermináveis escândalos de violência e corrupção, conseguiram desgovernar aquela paisagem que de algum modo aquele pedaço de Brasil a lembrar província imperial, bem perto do pedaço marítimo de terra, a ilha Porchat, vista do embarcadouro – onde aconteceu o último baile da ilha fiscal, antes da derrocada de um estamento de poder. Uma queda dentre muitas, que depois se seguiriam, na rota de roubania e escândalos, que tem sido essa República espandongada.

P.S. Espero ainda retornar um dia à Ilha do Governador, mesmo tendo desaparecido, há tempos, qualquer resquício de governança e paz, naquelas paragens da antiga cidade maravilhosa, que foi transformada em balneário conflagrado.

Seria bom passear de novo, como flaneur da poesia em desocupação e desemprego crônico. Mesmo não podendo ter mais a amável companhia da minha mãe, minha sogra, da minha tia e irmã, que se foram para sempre.

By *Brasigóis Felício

*Brasigóis Felício é escritor e jornalista. Membro da Academia Goiana de Letras, União Brasileira de Escritores, seção de Goiás e Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Goiás e colunista do Portal 7Minutos.

Hoje temos  3 fotos da Ilha do Governador em 1970, e vendo as fotos fica a saudade de uma Ilha do Governador com baía limpa, com praias deslumbrantes com água tão transparente que se podia ver os próprios pés mesmo com água no peito.
Ilha do Governador em 1970
Ilha do Governador em 1970
Brasigóis Felício é escritor e jornalista. Membro da Academia Goiana de Letras, União Brasileira de Escritores, seção de Goiás e Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Goiás e colunista do Portal 7Minutos
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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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