Para o cronista João do Rio, as profissões de mendigo e parasita eram os únicos meios de vida
que não tinham concorrência no Rio de Janeiro de seu tempo.
Hoje a situação está demudada. Porém não muito. Nas ruas e praças das cidades há muito mendigo disputando espaço nas calçadas.
Sem falar na pletora crescente dos vendedores ambulantes, dos descuidistas, pivet-kongs, os
malandros de todos os naipes, antes conhecidos como mordedores & parasitas; sendo os habituês
conhecidos chamados de facadistas, pedidores de nível igual ou até economicamente superior ao
daqueles que esfaqueiam ou escalpelam.
Quanto aos parasitas mordedores, estes vêm tendo considerável e deplorável aumento.
Haja vista termos saído do estado de sítio para entrar em estado de fazenda – no dizer
do Lima Barreto.O que veio representar um clamoroso aumento nos níveis de calamidade. Com tanto
mendigo e flanelinha a multiplicar o peditório na praça associada, vivem os cidadãos em
trânsito em estado de salve-se-quem puder.
P.S. Trazendo a cena para os dias de hoje: em Niterói, no Bairro do Fonseca
Assalta-se à noite e à luz do dia.
O povo vive em situação de calamidade pública.Para lembrar os
tempos de relativa paz, em que viveu o Antenor, personagem do João do Rio, que não foi aceito
em lugar algum da cidade, por seu vício de só falar a verdade, diga-se que uma pessoa assim
poderia ter sido um brasileiro feliz.
Mas não o foi, haja visto estarem em franco progresso os que fazem da mentira um estilo de
vida. Um homem como o Antenor, se existiu para além da imaginação do escritor, só pode ter
vindo da ilha do dia anterior – ou do Brasil oitocentista.
Certos ambientes conhecidos por serem povoados de gente “inteligentinha”, que se acha
inteligentíssima – são povoados de gente empavonada de vaidades tolas.
Muitos consideram-se o verdadeiro Deus – os menos pretensiosos garantem que falam com Ele, em
linha larga e direta, na hora e lugar em que bem quiserem.
Seríamos poupados de muito besteirol inútil se em teses de mestrado e doutorado dissertadores
se contentassem em ficar nas rasuras – não aprofundassem tanto em cavações, cavilações,
escavações e sondagens de longo curso que chamam de afunilamento.
É por descer muita falsa erudição e mares de citação pelo funil do argumento, que muitos perdem
o senso do ridículo, se é que um dia o tiveram.. E vão de fio a pavio no desenrolar o tema, é
por não saber que pecar por excesso azeda a sopa da prosopopeia.
*Brasigóis Felício é poeta, escritor e jornalista. Ocupa a cadeira 25 da Academia Goiana de
Letras., e colunista do Portal 7Minutos