Brasigóis Felício

Goiânia é a terra das oportunidades

Trabalhadores do Brasil

 

Precisando trocar de “visantes” – óculos de leitura, meus e da minha neta Jade, fomos às casas do ramo, situadas na Avenida Anhanguera, no centro de Goiânia.

Adentramos a primeira delas, depois de “trevessar” o Mercado Central onde, nas horas de fome, sempre busco as deliciosas empadinhas do Lázaro. Antes era freguês do Alberto, mas ele não está mais lá, perdeu a graça.

Vários atendentes captando possíveis clientes, desde a calçada. Sabem como é? Nestes tempos bicudos, quem não sai em busca de interessados, perde todo o interesse que possa ter.

Sua loja não é acessada por ninguém, fica povoada só de funcionários. Que ficam sem funcionar, uma vez que não têm ninguém a quem possam atender.

Na calçada mesmo, fui “captado” ou capturado pelo gentil convite de um rapaz, funcionário da ótica. Adentrei o recinto, e começamos a conversar. A primeira tratativa girou em torno do óculos da Jade, cuja armação estava quebrada.

Ofereceu muitas opções, ao gosto dela, até que acertaram-se. Ao ouvir-me pronunciar o nome da minha neta, disse que sua filha, que nascerá por estes dias, também se chamará Jade.

Acha o nome bonito, alude a uma pedra preciosa de cor esverdeada, que dizem ser medicinal. Além do nome começar com J, como Júlia, sua esposa, a quem homenageia, com o nome da filha deles.

No proseio que se seguiu (gosto de conversar com pessoas que me atendem, ou a quem atendo e sirvo, como pousadeiro ou estalajadeiro praiano) ele me disse que veio de São Luís do Maranhão.

A família chegou com uma mochila, e alguns contos de réis de mantença, no bolso. Chegaram com suas caras, e muita fé, esperança e coragem para recomeçar tudo de novo.

Em São Luís ele era dono de uma loja de peças automotivas. Com a chegada do Coronga, seguiu-se um fechamento total, seguido de quebradeira geral.

Ele estava indo bem no negócio, vendendo insufilme para veículos, e pelas de vários tipos, mas teve que desistir do negócio.

Pagava aluguel e funcionários, sem faturar coisa alguma. Antes já tinha passado por uns perrengues, durante o Governo Michel Temer, que pegou os destroços do desgoverno Dilma. Não deu mais.

Pegou um buzu lotado, tomando o rumo de Goiás. Aqui em pouco tempo estava empregado, na loja onde até hoje está, sem ter experiência alguma, no ramo. Foi aprendendo aos poucos, como até hoje está, com boa vontade, adquirindo novos conhecimentos.

Diz a quem pode, que Goiânia (como São Paulo já foi um dia) é a terra das oportunidades. Agradece a Deus, por ter escolhido este lugar, para viver. Conta, com orgulho, que mesmo estando em casa alugada, tem uma mobília inteira, tudo novo em folha, comprado com dinheiro de seu trabalho.

Na conversa, acabou entrando o gerente da loja. Que também chegou na cidade há quatro anos. Seus pais são de Fortaleza, mas ele nasceu em Manaus (quase dentro do avião, ele informa, rindo). Os pais foram para lá na grande oferta de empregos em fábricas da Zona Franca.

Cada um trabalhando em fábrica e ramos diferentes. Um fenômeno social, que durante décadas tem levado gente do nordeste inteiro, em busca de trabalho, na capital amazonense.

Falamos sobre a calamidade sanitária (novo avanço do vírus chinês) levando a cidade à situação de catástrofe. Ele lamenta, e diz que além da roubania e irresponsabilidade dos governantes, pesam agravantes, como o fato de os manauaras um povo acostumado a viver aglomerado (em especial no centro comercial, nos mercados e feiras, bem como nos bairros pobres da cidade).

Juntando tudo isto com o clima super húmido, onde estar sempre gripado (ou tendo surtos frequentes de doenças respiratórias, até mesmo pneumonia), eis que se desenha, naquela parte dos trópicos, um cenário de desastre.

Ele conta que, se em Manaus ele, sua mulher e filhos sempre viviam gripado, e com problemas respiratórios, depois de se instalarem em Goiânia, nunca mais ficaram gripados.

O clima seco da paisagem cerradense ajuda nisto. Deu-se, então, que a conversa estava tão boa, com a troca de vivências e relatos de experiências, que fui ficando no recinto, mesmo depois de ter sido muito bem atendido.

Conversar sempre ajuda no aprendizado, o enriquecimento mental e afetivo da existência.
Chegando ao fim do relato, concluo que incorre em ingratidão doentia e indesculpável quem, tendo nascido em Goiás, ou em qualquer banda do Brasil Central, quem ainda fala mal da sua cidade, ou do seu Estado.

Quem chegou de outras plagas, desembarcando na Rodoviária com uma mochila nas costas, e muita coragem e fé, para recomeçar a vida a partir de quase zero, tem muitos motivos para louvar, agradecer e defender este que deve ser um dos últimos bons lugares para se viver em prosperidade e em saúde e paz.

By *Brasigóis Felício

*Brasigóis Felício é escritor e jornalista. Membro da Academia Goiana de Letras, União Brasileira de Escritores, seção de Goiás e Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Goiás e colunista do Portal 7Minutos.

 

Precisando trocar de “visantes” – óculos de leitura, meus e da minha neta Jade, fomos às casas do ramo, situadas na Avenida Anhanguera, no centro de Goiânia.
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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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