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Por que a debandada nas Forças Armadas não pesou na Bolsa?

Descolado do exterior, Ibovespa sobe mais de 1%, enquanto o dólar recua; investidores digerem

Descolado de Wall Street, o Ibovespa sobe mais de 1% nesta terça-feira, 30, enquanto o dólar recua.

O mercado reage positivamente às trocas ministeriais feitas ontem pelo presidente Jair Bolsonaro e dados de criação de emprego acima do esperado.

Nesta tarde, o Ministério da Defesa divulgou nota informando que os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica pediram demissão. A notícia, no entanto, não fez preço no mercado.

“Na verdade, o mercado não reagiu [à saída dos comandantes] porque é um assunto que não implica em grandes mudanças de curto prazo. Não dá para dizer que Bolsonaro perdeu sua influência sobre as Forças Armadas e, mesmo que tenha perdido, militar não tem voto no Congresso”, disse André Perfeito, economista-chefe da Necton.

“O mercado está mais interessado em saber se as reformas vão ser aprovadas ou não e aparentemente o Bolsonaro se aproximou do centrão”, complementou.

Na véspera, o presidente Jair Bolsonaro trocou os titulares de seis pastas do governo, conduzindo uma espécie de reforma ministerial.

Com a demissão do chanceler Ernesto Araújo, do ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva, e do advogado-geral da União, João Levi, houve uma troca de cadeiras no primeiro escalão.

As mudanças atendem à pressão do meio político em geral, em especial do Senado, e contribuem para melhorar o clima político com o Congresso Nacional, segundo a consultoria política Arko Advice, ouvida pela equipe de research do Banco BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME).

A troca pode influenciar o clima em Brasília em um momento em que o presidente é pressionado para revisar o Orçamento de 2021. A expectativa é de que o Tribunal de Contas da União (TCU) trate do tema e force uma revisão para excluir manobras contábeis e evitar que o presidente cometa crime de responsabilidade fiscal, passível de impeachment – como foi o caso da ex-presidente Dilma Rousseff.

Investidores locais também repercutem dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), divulgados nesta manhã.

Foram criados 401,6 mil empregos formais em fevereiro, contra uma expectativa de apenas 257,5 mil, o que representa o melhor fevereiro da série histórica iniciada em 1992. Vale lembrar, no entanto, que os resultados podem ser piores no próximo mês, quando a retomada de medidas mais rígidas de isolamento social for contabilizada.

Destaques do Ibovespa
Entre as maiores contribuições positivas para o índice estão as ações do setor bancário, que juntas representam pouco mais de 15% do Ibovespa.

Os papéis se recuperam na esteira do bom dia para o setor no exterior, com a recuperação após o pregão da véspera, em que bancos expostos ao fundo hedge Archegos Capital sofreram perdas após o fundo ser obrigado a liquidar 20 bilhões de dólares em posições.

Na ponta oposta estão as ações de commodities, como Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3; PETR4), que repercutem a queda dos preços do minério de ferro e do petróleo. Os papéis da Vale recuam quase 1% enquanto os da Petrobras operam próximos da neutralidade.

No caso da Petrobras, as ações refletem a queda nos preços dos contratos futuros de petróleo, que recuam cerca de 1% nesta manhã após o navio Ever Given ser retirado do Canal de Suez na véspera. Analistas apontam, no entanto, que o petróleo deve continuar a trajetória de alta a médio prazo.

Em variação, algumas das maiores altas do índice estão com o setor aéreo e de turismo, que avançam com as expectativas de reabertura das economias fora do Brasil, permitindo a retomada de viagens internacionais. Embraer (EMBR3), Gol (GOLL4), Azul (AZUL4) e CVC (CVCB3) avançam entre 4% e 6%.

Inflação nos EUA
No exterior, os temores de inflação dão o tom do mercado americano, que opera em queda. Os principais índices futuros americanos operam em terreno negativo após nova alta no rendimento dos títulos de 10 anos do Tesouro americano – usado como termômetro para medir a inflação.

A taxa dos treasuries atingiu um novo recorde nesta manhã, ultrapassando a marca de 1,76% à medida que os investidores aguardam atualizações sobre o plano de infraestrutura de Biden, que pode custar cerca de 3 trilhões de dólares. Detalhes do estímulo devem ser divulgados nesta quarta-feira, 31.

O temor dos investidores é de que a aceleração da inflação – impulsionada por estímulos, vacinas e recuperação da economia – obrigue o Federal Reserve (Fed, banco central americano) a alterar sua política monetária antes do esperado, subindo a taxa de juros.

Taxas de juros mais altas significam empréstimos mais caros, o que pode afetar o caixa de empresas de tecnologia, que se utilizam deles para crescer. Por isso as ações de empresas do setor são as mais afetadas na bolsa americana, contribuindo para a queda de 0,64% do índice de tecnologia Nasdaq futuro.

A alta no rendimento dos títulos americanos também diminui o apetite ao risco entre os mercados globais, o que fortalece o dólar. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana em relação a uma cesta de divisas internacionais, opera em alta de 0,23%.

Contra o real, o dólar também avançou e chegou a superar a marca dos 5,79 reais pela manhã, mas perdeu força ao longo do dia com a avaliação relativamente positiva sobre reforma ministerial.

By Beatriz Quesada, Paula Barra

 

O mercado reage positivamente às trocas ministeriais feitas ontem pelo presidente Jair Bolsonaro e dados de criação de emprego acima do esperado.  (Germano Lüders/Exame)
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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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