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The Economist: o futebol brasileiro parece ser a próxima Premier League

Injeção de dinheiro das casas de apostas e SAFs ajudam País a manter domínio na América do Sul

Em 30 de novembro, 70 mil torcedores se empilharam no estádio Monumental, em Buenos Aires. Eles estavam lá para apoiar dois times brasileiros, o Atlético-MG e Botafogo, na final da Copa Libertadores.

A partida foi feroz.

No primeiro minuto, Gregore, meio-campista do Botafogo, recebeu um cartão vermelho por enfiar suas travas no rosto de um adversário, deixando seu time com dez homens.

Segundos antes do fim da prorrogação, Júnior Santos, do Botafogo, passou por três jogadores do Atlético para chutar a bola para o gol, selando uma vitória de 3 a 1 para seu time.

A partida foi histórica por uma série de motivos. Foi o primeiro troféu da Libertadores conquistado pelo Botafogo, eterno azarão.

Foi a sexta Libertadores seguida vencida por um time brasileira, maior sequência de um país na competição.

E os dois finalistas são Sociedades Anônimas de Futebol (SAF).

O Botafogo tem a história de sucesso mais espetacular desde que o Brasil permitiu que os clubes, historicamente estruturados como associações não-lucrativas, a se tornarem empresas.

Não será o último.

Graças ao crescimento das SAFs e das casas de apostas, o futebol brasileiro está inundado com dinheiro.

Os clube estão ficando mais competitivos, fazendo do Brasil o mercado mais excitante para os investidores do “beautiful game”.

O arco do Botafogo é lendário e ilustra as forças em jogo no futebol brasileiro.

Nas décadas de 1960 e 1970, o clube era uma fábrica de melhores jogadores do mundo.

Forneceu mais jogadores à seleção brasileira do que qualquer outro clube.

Mas, ao longo dos últimos 40 anos, viveu um período de queda livre.

Ganhou uma Copa Conmebol, predecessora da Sul-Americana, em 1993.

Entre os anos 2000 e 2020, caiu três vezes para a segunda divisão.

Suas finanças afundaram junto.

Em 2020, tinha dívidas de mais de R$ 1 bilhão de reais e receitas anuais de apenas R$ 151 milhões.

Então, veio John Textor, um empresário americano.

Sua empresa, a Eagle Football Holding, tem ações do Cystal Palace na Inglaterra e do Lyon na França.

Ele comprou o Botafogo em 2022 por cerca de US$ 66 milhões.

As dívidas do clube foram cortadas pela metade.

Neste ano, ele pagou quantias recordes pelo atacante Luiz Henrique e pelo meia Thiago Almada.

Nós, torcedores do Botafogo, temos John Textor na terra e Deus no Céu, fiz Isaias Liberbaum, torcedor botafoguense de 70 anos.

As recompensas são doces.

Textor recebeu um cheque US$ 23 milhões pelo título da Libertadores, e a vitória também classificou o Botafogo para o Mundial de Clubes da Fifa de 2025.

A premiação é gigante.

Ele quer abrir o capital da Eagle Football Holding e espera arrecadar pelo menos US$ 1 bilhão (R$ 6 bilhões).

Até mesmo os derrotados estão otimistas.

Nós temos tudo no Brasil para nos tornarmos algo como a Premier League,

afirma Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master, coproprietário do Atlético-MG.

Nós temos a paixão, o talento, a base de fãs e o potencial para crescimento.

Quatro dos chamados 12 grandes clubes do Brasil se tornaram SAF em 2021.

Mais casos são esperados conforme histórias de sucesso são empilhadas.

Em 2021, Ronaldo Fenômeno comprou o Cruzeiro, que possuía dívidas de escorrer lágrimas dos olhos e havia acabado de cair para a segunda divisão, por US$ 70 milhões.

Ele vendeu o clube em abril, por US$ 100 milhões, depois de trazê-lo de volta para a primeira divisão.

O futebol brasileiro também colheu ganhos financeiros das apostas esportivas, que foram legalizadas em 2018.

O Banco Central estima que brasileiros gastaram mais de R$ 20 bilhões por mês neste ano em apostas via PIX.

O entusiasmo com as apostas trouxe preocupação ao governo, que aprovou uma lei forçando as casas de apostas a obterem licenças de funcionamento.

Apesar da euforia em torno delas, as SAFs não podem resolver todos os problemas.

Em 2022, o grupo americano de investimentos 777 Partners comprou o Vasco.

Declarou falência em outubro e está sendo investigado nos Estados Unidos por fraude.

SAFs não são uma varinha mágica — você precisa de boa gestão, afirma José Francisco Manssur, coautor da lei da SAF.

Outros pensam que há mais para explicar o domínio brasileiro além das SAFs e o dinheiro das apostas.

Irlan Simões, do Observatório Social do Futebol da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), observa que Colômbia e Chile adotaram modelos parecidos ao da SAF antes do Brasil, mas seus times continuaram medianos.

A grande população do país significa um mercado maior para a venda de ingressos, merchandise e direitos de transmissão.

Em 2016, a Conmebol decidiu pela participação de mais times na fase de classificação da Libertadores, o que beneficiou o Brasil.

Mais dinheiro, menos problemas
De qualquer forma, o dinheiro ajuda.

O modelo de associação não é adequado ao processo, afirma Mansur,

porque hoje os clubes têm milhões de torcedores e precisam de dinheiro para comprar os melhores jogadores.

Ele avalia que as SAFs pode se tornar um modelo para outros países da América do Sul.

Esse é um pensamento arriscado para um brasileiro.

Nenhum país poderia se beneficiar mais de uma injeção de capital do que o nemesis futebolístico do Basil, a Argentina.

O país produz um número desproporcional de jogadores de nível mundial, mas seus times nacionais têm sido um desastre.

Depois da final da Libertadores,

o presidente da Argentina, Javier Milei, publicou na rede social X (antigo Twitter):

Vamos conversar sobre SAFs?.

A associação de futebol do país tem resistido ferozmente a essses esforços.

Talvez a vergonha de assistir aos times brasileiros dominando em seu próprio território mude isso.

Por The Economist

Dono da SAF do Botafogo, John Textor
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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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