Conteúdo J.R.Guzzo
Nova polícia do TSE vai caçar quem cometer “desinformação” nas eleições
A Suprema Justiça brasileira acaba de criar mais uma polícia eleitoral. “ O Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e de Defesa da Democracia”

A Suprema Justiça brasileira acaba de criar mais uma polícia eleitoral.
Já tinha o TSE, um porão familiar às ditaduras, que dá ordens aos candidatos, opera as urnas para a votação e conta os votos. Cassa o mandato de deputados para atender as exigências pessoais de vingança do presidente da República.
Quer cassar, agora, o mandato do senador Sergio Moro, que cometeu o crime de condenar Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Chegou ao ponto máximo de sua glória quando o comissário-chefe do TSE disse em público ao ministro Alexandre de Moraes, inimigo mortal de Jair Bolsonaro, em plena cerimônia de diplomação de Lula: “Missão cumprida”.
Mas mesmo o TSE que faz essas coisas todas ainda não é suficiente para o ministro Moraes e seus projetos de eliminar “a direita” da vida política brasileira.
Acabam de inventar mais uma patrulha de combate à liberdade eleitoral, nova em folha, para juntar-se às esquadras já existentes.
“Desinformação” não existe na lei, mas tem um significado muito claro do Brasil da “corte suprema”: é tudo aquilo que possa prejudicar Lula e o PT
A nova tropa de vigilantes recebeu o nome de “Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e de Defesa da Democracia” e a mais extraordinária missão que jamais foi dada ao serviço público do Brasil:
terão de descobrir, a partir de agora, tudo o que é “desinformação” nas campanhas eleitorais e nas suas vizinhanças e, presumivelmente, punir os “desinformadores”.
É mais uma alucinação.
Não existe, em nenhuma lei brasileira, o delito de “desinformação”
– o que quer dizer, antes de mais nada, que ninguém sabe o significado legal dessa palavra.
Se nem a lei sabe o que “desinformação”, tanto que essa palavra sequer aparece em nenhum dos seus textos, como o cidadão poderia saber?
O Centro de Enfrentamento do ministro Moraes já começa, assim, numa situação ilegal.
Ninguém pode ser obrigado a fazer,
ou proibido de fazer, qualquer coisa que não esteja escrita em lei.
Mas, no caso, você vai ser proibido de desinformar – ou seja, não pode fazer uma coisa que você nem sabe o que é.
Uma das grandes especialidades que o complexo STF-TSE desenvolveu nestes últimos cinco anos é expedir bulas papais que tratam o cidadão brasileiro como débil mental.
É o caso, mais uma vez.
Quem é devoto de Lula fica encantado com os disparates que ouve dos ministros.
Mas quem não é vai ficando cada vez mais certo que não pode levar a sério nada que venha deles.
“Desinformação” não existe na lei, mas tem um significado muito claro do Brasil da “corte suprema”: é tudo aquilo que possa prejudicar Lula e o PT.
Na última campanha eleitoral, por exemplo, foi proibido dizer que Lula é um coroinha de Nicolás Maduro e outros ditadores do mesmo naipe – ou que foi condenado como ladrão pela Justiça brasileira. As informações são corretas.
Mas “desinformam”, na opinião dos censores – e o povo, coitado, não tem capacidade para entender que está sendo enganado pela “direita”.
O “Centro” do ministro Moraes vai resolver isso.
Por: J.R. Guzzo
J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968.
Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976, período em que a circulação da revista passou de 175.000 exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame.
**Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo e do Portal 7Minutos..