Estilo : Comportamento

não reduzir salários de políticos

Médica argentina escreve carta aberta criticando presidente do país

Diante da Covid-19: 'Se deputados, senadores ou a classe política merecem não reduzir salários, por que eu, como médica, mereço um salário de 40 mil pesos mensais, sendo que estou permanentemente disponível?', questionou Estefanía Mazza Diez

Tudo começou com uma declaração surpreendente do presidente da Argentina, Alberto Fernández, até agora muito elogiado pelo modo como tem administrado as medidas de combate à Covid-19.

Sem perceber que estaria abrindo uma enorme frente de conflito, o chefe de Estado assegurou, numa entrevista, que seu governo não estaria de acordo com a redução de salários de funcionários e políticos já que seria

“uma iniciativa demagógica”.

E, mais ainda, disse que ninguém em seu governo vive de fortunas, tem conta no exterior, ou empresas.

São pessoas, frisou Fernández, “que vivem de seus salários”.

O que o presidente não esperava era que uma desconhecida contestasse suas afirmações numa carta pública, que acabaria viralizando e instalando um debate que a Casa Rosada não pretendia encarar neste momento.

A desconhecida, agora muito popular na Argentina, é a médica Estefanía Mazza Diez, de 32 anos, que trabalha como cirurgiã num hospital do balneário de Mar del Plata, localizado a cerca de 400 quilômetros de Buenos Aires.

Indignada com a atitude de Fernández, a médica publicou uma carta num jornal local, que foi compartilhada por vários amigos nas redes sociais e acabou chegando aos grandes meios de comunicação do país.

“Se eu posso viver com um salário estável de 40 mil pesos (em torno de US$ 625), sua classe política poderia viver durante alguns meses com 25% menos de salário”,

respondeu a cirurgiã ao presidente da Argentina.

Em sua carta, Estefanía defendeu o trabalho dos médicos e os sacrifícios que devem fazer para estar na linha de frente das ações de combate à pandemia.

“Os médicos amamos o que fazemos. Podemos passar dias sem dormir para dar o melhor de nós mesmos. Isso se chama vocação, mas não por amar o que fazemos e por ter em nossas mãos a vida de uma pessoa, merecemos a falta de respeito econômica. E me refiro à falta de respeito, porque para estar bem economicamente, todos, todos os médicos, trabalhamos de segunda a segunda em pelo menos três lugares diferentes”, explicou a médica argentina.

E, logo em seguida, alfinetou os políticos de seu país:

“se seus deputados, senadores ou a classe política merecem não reduzir salários (de cerca de US$ 3.125), porque estão o tempo todo disponíveis, por que eu, como médica, mereço um salário de 40 mil pesos mensais do Ministério dá Saúde, sendo que trabalho e estou permanentemente disponível 24 horas por dia, 365 dias por ano?”.

Na mesma entrevista, o presidente argentino disse que reduzir salários de funcionários e políticos representaria uma economia de apenas 200 milhões de pesos (US$ 3,125 milhões) e que isso não faria diferença nas atuais circunstâncias.

Em sua carta, a médica rebateu esta afirmação:

“Senhor presidente, eu faria e faria muito (com esse dinheiro). Compraria óculos para os médicos, máscaras, roupas e camas. Eu garanto ao senhor que, nesta crise, tudo ajuda”.

O recado final é ainda mais provocador:

“Convido o senhor para passar um dia em minha vida, quando a tempestade, passar. Espero que não seja tarde, que seja antes de que eu vire um entre os milhares de médicos argentinos espalhados pelo mundo em busca de melhores condições de trabalho”.

Em alguns países, chefes de Estado e funcionários governamentais reduziram seus salários. Um dos primeiros foi o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, empossado em 1 de março passado.

Esta semana, foi a vez da primeira ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern.

Em ambos os casos, o corte anunciado foi de 20%.

By Janaina Figueiredo

Link original da matéria:
https://oglobo.globo.com/celina/coronavirus-medica-argentina-escreve-carta-aberta-criticando-presidente-do-pais-por-nao-reduzir-salarios-de-politicos-diante-da-covid-19-24372756?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo

A médica Estefanía Mazza Diez escreveu uma carta aberta a Alberto Fernández criticando a decisão do presidente argentino de não reduzir salários de políticos e funcionários públicos durante o combate ao novo coronavírus Foto: Reprodução Facebook

https://youtu.be/mW7ieYL0Jb4

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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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