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Uma das fases mais sombrias

Os Julgamentos de Moscou e o Grande Expurgo: Stalin, Beria e a Purga do Partido Bolchevique

Os julgamentos de Moscou, ocorridos entre 1936 e 1938, foram uma série de processos judiciais realizados durante o período conhecido como o Grande Expurgo na União Soviética.

 Liderado por Josef Stalin, este evento marcou uma das fases mais sombrias do regime soviético, caracterizado pela perseguição brutal de opositores reais e imaginários, incluindo membros do próprio Partido Comunista da União Soviética.
As ações de Stalin, com o apoio de figuras como Lavrenti Beria, chefe da polícia secreta, resultaram na eliminação de milhares de pessoas, consolidando o poder absoluto do líder soviético.
O Contexto do Grande Expurgo
Após a Revolução de 1917 e a subsequente guerra civil, a liderança bolchevique enfrentou uma série de divisões internas. A década de 1920 viu o surgimento de facções dentro do partido, incluindo a oposição liderada por Leon Trotsky, Nikolai Bukhárin e outros, que contestavam as políticas de Stalin. Com a morte de Lênin em 1924,
Stalin iniciou uma ascensão política que culminou na eliminação progressiva de seus rivais políticos, resultando nos expurgos da década de 1930.
O Grande Expurgo teve como objetivo central eliminar qualquer resistência ao regime stalinista e reconfigurar o partido e o Estado soviético sob o controle absoluto de Stalin.
Essa purga afetou não apenas os líderes bolcheviques, mas também militares, intelectuais, camponeses e cidadãos comuns acusados de conspiração contra o governo.
Os Julgamentos de Moscou
Os julgamentos de Moscou foram o ponto alto do Grande Expurgo.
Esses processos judiciais públicos eram encenados para justificar a repressão e criar a aparência de legalidade.
As acusações envolviam conspiração, sabotagem, espionagem e até tentativas de assassinato de Stalin.
As confissões, muitas vezes obtidas sob tortura ou ameaças, eram usadas para condenar os acusados.
Os principais julgamentos foram:
  1.  O Julgamento dos Dezesseis (1936): Entre os acusados estavam Grigory Zinoviev e Lev Kamenev, antigos aliados de Stalin e membros proeminentes do partido.
Ambos foram acusados de conspiração para assassinar Stalin e outros líderes soviéticos.
Todos os réus foram condenados e executados.
  2.  O Julgamento dos Dezessete (1937): Envolveu figuras de destaque acusadas de espionagem e traição, como Karl Radek e Grigory Piatakov.
Este julgamento marcou uma escalada nas acusações de conspirações internacionais contra o regime.
  3.  O Julgamento dos Vinte e Um (1938): Este foi o mais notório e incluiu Nikolai Bukhárin e Alexei Rykov, antigos membros do alto escalão bolchevique.
Ambos foram acusados de liderar uma “organização contrarrevolucionária” e de tramar com potências estrangeiras contra a União Soviética.
Assim como nos julgamentos anteriores, as confissões forçadas levaram às suas execuções.
O Papel de Stalin e Beria
Josef Stalin foi o arquiteto do Grande Expurgo, supervisionando pessoalmente as campanhas de repressão.
Ele utilizou os julgamentos e as execuções como ferramentas políticas para consolidar seu poder e eliminar qualquer ameaça à sua autoridade.
Stalin manipulava o medo e a paranoia para justificar as purgas, promovendo a ideia de que a União Soviética estava cercada por inimigos internos e externos.
Lavrenti Beria, que assumiu o comando da NKVD (polícia secreta soviética) em 1938, desempenhou um papel crucial na execução das políticas de Stalin.
Sob sua liderança, a repressão tornou-se ainda mais implacável.
Beria utilizava uma expressão:
mostre-me o homem, e eu encontrarei o seu crime.
Ele supervisionou prisões, torturas e execuções em massa, e sua eficiência como executor do regime o tornou uma figura-chave na manutenção do terror stalinista.
Consequências dos Expurgos
O Grande Expurgo teve consequências devastadoras para a União Soviética.
Estima-se que milhões de pessoas tenham sido presas, enviadas para campos de trabalho forçado (gulags) ou executadas.
No exército, a eliminação de grande parte da liderança militar deixou o país vulnerável nos anos iniciais da Segunda Guerra Mundial.
O Partido Comunista foi drasticamente reconfigurado, com a substituição de líderes veteranos por quadros mais jovens e leais a Stalin.
Além disso, a sociedade soviética foi mergulhada em um clima de medo e desconfiança, onde denúncias e perseguições eram comuns.
Legado e Revisões Posteriores
Após a morte de Stalin em 1953, seu sucessor, Nikita Khrushchev, denunciou os excessos do regime durante o Discurso Secreto de 1956.
Muitos dos acusados nos julgamentos de Moscou foram reabilitados postumamente, e o Grande Expurgo foi reconhecido como um período de grande injustiça.
Os julgamentos de Moscou e o Grande Expurgo permanecem um símbolo do totalitarismo stalinista e das tragédias causadas pelo autoritarismo.
Eles ilustram como o uso do medo, da propaganda e da repressão pode destruir vidas, instituições e a confiança em uma sociedade.
Embora os julgamentos de Moscou sejam um exemplo extremo de repressão política em um regime totalitário, eles ilustram os perigos da instrumentalização da Justiça para fins políticos.
No Brasil, os inquéritos do STF e da Polícia Federal contra bolsonaristas, embora baseados em um regime democrático, devem ser analisados à luz do princípio do equilíbrio entre a defesa da democracia e o respeito às liberdades individuais.
O Brasil enfrenta um desafio delicado: evitar tanto a omissão em relação a atos antidemocráticos quanto o excesso na aplicação de medidas repressivas.
Nesse contexto, garantir o devido processo legal e evitar a percepção de seletividade são passos fundamentais para fortalecer o Estado de Direito e impedir comparações com episódios autoritários como o Grande Expurgo.
Rodrigo Schirmer Magalhães 
Cientista político e Analista de política.

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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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