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investigado na Operação Vendilhões.

Padre Robson disse a advogado que morte de dirigente da Afipe que teria participado de subornos seria ‘uma benção’, aponta investigação

De subornos seria ‘uma benção’, aponta investigação. Áudios mostram envolvimento do religioso em um possível esquema de lavagem de dinheiro, organização criminosa e suborno a desembargadores.

Em uma das mensagens, padre diz: ‘Se o senhor pudesse matar ele pra mim eu achava uma benção’. Padre nega irregularidades.

Novos áudios encontrados no celular do padre Robson de Oliveira, que era investigado por desvio de dinheiro na Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), em Trindade, mostram quando o padre diz a um advogado que a morte de um dirigente da Afipe, envolvido em esquemas de suborno, seria conveniente a ele.

Na mensagem, obtida com exclusividade pelo Fantástico, o padre diz:

“Se o senhor pudesse matar ele pra mim eu achava uma benção”.

Em nota ao Fantástico, a defesa do Padre Robson disse que desconhece o conteúdo das mensagens e que elas são

“frutos de montagens e adulterações feitas por pessoas inescrupulosas”.

A nota disse ainda que o padre é vítima de extorsão e perseguição.

O G1 solicitou um posicionamento à Afipe e aguarda retorno.

Padre Robson era investigado na Operação Vendilhões.

O processo que investiga as supostas irregularidades está interrompido pela Justiça. O Ministério Público já apresentou recurso no Superior Tribunal de Justiça, mas ele ainda não foi analisado.

Os áudios mostram a participação de Padre Robson em um possível esquema de lavagem de dinheiro, organização criminosa e suborno a desembargadores (ouça o podcast abaixo). Conforme a investigação do MP, muitos dos áudios são de reuniões, que o padre costumava gravar secretamente.

Segundo os investigadores, todos os áudios exibidos neste domingo (21) passaram por perícia técnica, que comprovou serem mesmo do padre.

Os áudios estavam em HDs, computadores e no celular do padre – material que foi apreendido em agosto de 2020, durante a operação do Ministério Público.

Segundo o MP, um e-mail trocado entre os dois principais dirigentes da Afipe, Rouane Caroline Martins e Anderson Fernandes, mostraram uma troca de e-mails entre eles, onde Rouane fala à Anderson que eles devem proteger o padre.

“Anderson, temos que proteger o padre. Se colocarem as mãos em determinados documentos, vai todo mundo preso”, escreveram.

Em uma das reuniões gravadas pelo padre, Anderson pede uma parcela do dinheiro desviado.

Padre: Então, você fez uma solicitação na ordem de R$ 4 milhões.
Anderson: Eu coloquei os valores que o senhor havia prometido pra mim, eu perguntei se o senhor poderia acertar alguma coisa comigo daquilo ali, só isso que eu fiz.
padre: Vamos acertar.

Outros áudios obtidos pelo Fantástico mostram que o padre subornava várias pessoas.

Entre eles, o marido de Talitta di Martino, que têm um relacionamento amoroso com o padre, conforme os agentes.

Por isso, Tyrone di Martino, o marido dela, teria chantageado o padre.

Supostamente, o padre teria pago R$ 350 mil para Tyrone escrever uma biografia dele. Entretanto, um áudio do próprio padre desmente a contratação do serviço.

Padre:

“Você acha que eu ia dar R$ 350 mil pra ele por um servicinho daquele de biografia da minha vida? Aquilo foi extorsão, Talitta. Extorsão pura”.

Em 2017, outro caso de extorsão envolveu o sacerdote. Padre Robson deu queixa à polícia, na época, por causa de um hacker que invadiu o computador dele e exigiu dinheiro para não divulgar informações.

Os policiais prenderam o hacker, mas, de posse do material, teriam passado eles mesmo a extorquir o dinheiro padre.

Após isso, este material também teria chegado às mãos de uma jornalista, que contou a história ao marido dela.

O marido, identificado como Ubiramar dos Santos, chamado de “Bira”, então, decidiu extorquir também o dinheiro padre.

Após repassar o caso para a polícia, a investigação ficou a cargo da delegada de Trindade, Renata Vieira da Silva, que foi afastada do cargo na última sexta-feira (19).

Conforme os investigadores, houveram várias trocas de mensagens entre a delegada e o padre.

Em uma delas, o padre diz que ele mesmo vai “dar um chega” em Bira.

Padre:

“Eu vou tentar usar dos meios que eu conheço pra persuadi-lo a me dizer realmente se o que ele tem é algo interessante. Eu vou levar um policial e uma pessoa armada, pra me proteger. A gente vai fazer isso tudo fora do padrão legal. Nós vamos dar um chega nesse caboclo lá, mas vai ser na base do “faroeste caboclo.”

Após isso, ele pede ajuda à delegada.

“É um caso extremo, né?   Se for preciso criar uma história em cima disso aí, você tá junto comigo. Você me libera dessa situação, se acontecer o extremo ali”.

No dia marcado para o encontro com o Bira, o padre também gravou a conversa. Eles terminam o diálogo negociando uma extorsão no valor de R$ 200 mil. Veja a transcrição do áudio:

Padre:

O que você tem mesmo sobre mim? Que possa me afetar. Você falou que tem cópias. Tem alguma aí no seu carro?

Bira: Não.

Padre: Porque, assim, se eu não tiver um material palpável, como é que eu vou entender que isso é relevante, entendeu?

Padre: Bira, deixa eu te explicar uma coisa: eu sou um sacerdote.

Após isso, Bira pede R$ 500 mil e o padre faz uma contraproposta.

Padre: Você não abaixa esse valor de 500?

Bira: Não.

Padre: Então vamos combinar 200 mil.

Padre: Anota meu telefone aí. Você vai pensar esse valor melhor.

Segundo a investigação, a delegada Renata teria chegado a corrigir um depoimento dado pelo padre à polícia. Em troca, segundo os investigadores, ela ganhou o contrato para venda de fragrância aromatizante na igreja de Trindade. Após o afastamento da delegada, a Delegacia de Polícia Civil de Trindade está sob intervenção.

Ao Fantástico, a delegada Renata Vieira disse, em nota, que é amiga do padre desde 2009 e que também presidiu investigação de eventual crime de extorsão, em que o padre era vítima, e que obedeceu as normas da lei.

Além disso, o padre Robson também tinha envolvimento com alguns desembargadores do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO). Em um dos casos descobertos, ocorrido em 2019, a Afipe comprou uma fazenda em Goiás, mas foi processada pelo dono após um calote de R$ 15 milhões.

Na época, a Afipe perdeu a ação, mas conseguiu reverter a sentença na segunda instância.

Segundo a apuração do Fantástico, a vitória na sentença teve um preço, que foi discutido pelo padre durante uma reunião com o dirigente da Afipe Anderson Fernandes, também advogado, e com o advogado Cláudio Pinho.

Advogado: Deixa eu falar um negócio pro senhor. Só pra relembrar. Uma parte de desse valor já não me pertence

Anderson: Ele tá dizendo que pra ganhar lá no Tribunal ele comprou pessoas.

Padre: Qual que é essa parte?

Advogado: O senhor se comprometeu com R$ 750 mil lá. Só pro senhor ter uma noção: dos três desembargadores, R$ 500 mil pra um, e o resto é dividido pra dois.

Ao fantástico, o advogado Cláudio Pinho afirma que o suborno nunca aconteceu e que o áudio investigado é possivelmente uma montagem.

Já a presidência do TJ-GO afirma que não se pode presumir a ocorrência de irregularidades no julgamento de processos a partir de conversa mantida entre advogado e cliente.

Entenda a operação do MP
Segundo o Ministério Público de Goiás, crimes como lavagem de dinheiro, apropriação indébita e falsidade ideológica teriam sido cometidos nas “Afipes”, associações criadas pelo padre Robson e ligadas à igreja.

Conforme os investigadores, o montante suspeito seria de R$ 2 bilhões movimentados em dez anos, incluindo fazendas, um avião e uma casa de praia.

Os valores eram desviados das doações feitas por empresas e fiéis.

Ao Fantástico, o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, disse que vê motivos para retomar a investigação. Segundo ele, houve obstrução de Justiça, tráfico de influência, lavagem de dinheiro, e organização criminosa.

Impasse na Justiça
Em outubro, a Justiça tinha determinado que as investigações deveriam ser interrompidas por entender que não estavam presentes no processo os crimes apontados pelos promotores. No entanto, em 4 de dezembro, a decisão do presidente do Tribunal de Justiça de Goiás autorizou a retomada da apuração.

Dez dias depois, outra sentença, desta vez dada pelo desembargador do TJ-GO Leobino Chaves Valente, voltou a determinar o bloqueio do mesmo processo. Em 17 de dezembro, uma sentença do Superior Tribunal de Justiça reforçou a decisão do magistrado.

“O Ministério Público chegou a denunciar o padre ou outras 17 pessoas por organização criminosa e lavagem de dinheiro.”

Os promotores de Justiça afirmam que o padre comandava uma organização criminosa e transferia grandes valores para empresas, com o objetivo de utilizar o dinheiro das entidades religiosas criadas por ele como seu, sem prestar contas nem se submeter às regras associativas.

Por Danielle Oliveira, Ana Carolina Raimundi e Mahomed Saigg, G1 GO e Fantástico

 

https://youtu.be/czNOizIPDIE

[caption id="attachment_94715" align="alignnone" width="1024"] Padre Robson Oliveira Pereira Afipe Associação Filhos do Pai Eterno Trindade Goiás — Foto: Reprodução/Instagram[/caption]
[caption id="attachment_94716" align="alignnone" width="1024"] Padre Robson Oliveira Pereira Afipe Associação Filhos do Pai Eterno Trindade Goiás — Foto: Reprodução/Instagram[/caption] [caption id="attachment_94717" align="alignnone" width="1024"] Padre Robson diz que nova Basílica de Trindade deve custar R$ 1,4 bilhão após previsão inicial de R$ 100 milhões Goiás — Foto: Reprodução/Fantástico[/caption] [caption id="attachment_94718" align="alignnone" width="1024"] Casa de luxo de padre Robson foi alvo de mandados de buscas e apreensões, em Trindade — Foto: Reprodução/TV Anhanguera[/caption] [caption id="attachment_94719" align="alignnone" width="1024"] Padre Robson — Foto: Fantástico[/caption]
  https://youtu.be/syRss-AqOEs
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  • Leia na fonte original da informação
  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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