‘Muita truculência’
Pai de advogado se revolta ao presenciar família ser agredida por policiais e ser chamado de bandido
Vídeo mostra abordagem durante confraternização do Dia dos Pais. PM alega que o advogado injuriou e ameaçou os policiais e foi necessário o uso da força para contê-lo.
O trabalhador rural João Batista Ferreira, de 61 anos, contou que presenciou o filho, o advogado Wanderson Ferreira Rodrigues, e familiares serem agredidos por policiais militares em Trindade, na Região Metropolitana da capital. Em entrevista à TV Anhanguera, João Batista afirmou que se revoltou com a situação e foi chamado de bandido e traficante durante a abordagem policial.
Sou uma pessoa trabalhadora, uma pessoa de bem. Acho que eles agiram com muita truculência, não podia ter acontecido isso de jeito nenhum, estou muito revoltado, desabafou João Batista.
Em entrevista ao g1,
Wanderson relatou que os militares invadiram sua residência durante uma festa de Dia dos Pais. Um vídeo, gravado por sua filha, mostra o momento em que os policiais tentam arrastá-lo para fora da casa (assista acima).
O caso aconteceu no último sábado (10). Segundo Wanderson, sua filha, de 16 anos, também foi agredida.
Meu pai saiu para pegar um celular e falou que tinham policiais militares na porta abordando alguns jovens.
Eu saí para ver o que do que se tratava.
Quando eu estava saindo, já tinham policiais militares dentro da minha sala e outro já entrando na garagem, descreveu o advogado.
O advogado contou que, ao ir espontaneamente à delegacia para registrar um boletim de ocorrência, acabou preso, pois os policiais da Companhia de Policiamento Especializado (CPE) alegaram desacato e resistência. Ele foi liberado após pagar fiança de R$ 2 mil.
O que diz a PM?
Em nota, a Polícia Militar (PM) informou que, durante uma abordagem a quatro pessoas em Trindade, um dos suspeitos tentou se fugir para uma casa e ao entrar no imóvel, a equipe foi recebida hostilmente por Wanderson.
Segundo a PM, o advogado
proferiu injúrias e ameaças contra os policiais e resistiu ativamente à abordagem e, por conta da resistência e agressividade, foi necessário o uso proporcional da força para contê-lo (leia nota completa no fim da reportagem).
Wanderson explicou que a família estava comemorando o Dia dos Pais no sábado porque seu pai, que tem outros filhos e netos em Caldas Novas, retornaria à cidade no domingo (11). Ele afirmou que, ao ver os policiais na casa, perguntou se eles tinham algum mandado para entrar no local.
Eles falaram que o meu pai era traficante.
Falei que ele não era traficante, que eu era advogado.
Eles não quiseram saber, me puxaram naquele momento. Disseram que ia me conduzir para fora. Falei que não iria sair de dentro da minha residência porque a prisão foi ilegal, foi invasão de domicílio, detalhou Wanderson.
O advogado contou que nada foi encontrado no imóvel.
Eles tentaram forjar um flagrante, mas não conseguiram.
Minha filha começou a filmar. Nesse momento, um dos policiais a agrediu. Minha filha tem cerca de 1,4 m de altura, enquanto o policial tem aproximadamente 1,9 m.
Ele a jogou no chão, tomou o celular e a chutou. Minha esposa saiu em defesa dela, e foi quando tudo virou uma bagunça, explicou o advogado.
À TV Anhanguera, a adolescente disse que conseguiu recuperar o vídeo da lixeira do celular. Exames de corpo de delito realizados na menina, no advogado e em sua esposa confirmaram escoriações.
Ao sair de casa, eles torceram o meu braço, os vizinhos interviram, falaram que eu era advogado.
Depois de toda a violência, eles pegaram os documentos, viram que não tinha nada. Chamei a OAB-GO e gravei os vídeos, pontuou Wanderson.
Prisão
Wanderson foi preso em flagrante ao chegar à delegacia, suspeito de resistência e desacato. No processo que detalha a prisão, os policiais alegaram que foram xingados e empurrados por ele.
Os policiais também afirmaram que houve resistência por parte do advogado ao receber voz de prisão e que ele resistiu quando tentaram levá-lo para fora da casa. Segundo o processo, os militares relataram que também sofreram escoriações durante a confusão.
O que diz a OAB-GO?
Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) informou que vai solicitar ao Comando da Polícia Militar a apuração da denúncia de ação abusiva e agressões contra o advogado e sua família. A Comissão de Direitos e Prerrogativas (CDP) e a subseção de Trindade estão acompanhando o caso e oferecido apoio ao advogado.
Segundo a OAB-GO, a atuação de agente público, sem denúncia ou suspeita fundada, configura flagrante violação dos direitos dos cidadãos.
A presença não autorizada da PM em domicílio privado, sem mandado judicial específico ou flagrante devidamente comprovado,
afronta o artigo 5º, inciso XI, da Constituição Federal, que assegura a inviolabilidade do lar, detalhou a nota da OAB-GO (leia posicionamento completo no fim da reportagem).
Nota PM
A Polícia Militar informa que, durante uma abordagem a quatro indivíduos na cidade de Trindade, um dos suspeitos tentou se evadir para dentro de uma residência. Ao adentrar o imóvel, a Equipe CPE Supervisão foi recebida de forma hostil por um homem que se identificou como advogado. Este indivíduo proferiu injúrias e ameaças contra os policiais e resistiu ativamente à abordagem.
Em razão da resistência e agressividade demonstradas, foi necessário o uso proporcional da força para contê-lo.
O indivíduo (advogado) compareceu à delegacia, onde sua prisão foi formalmente ratificada pelas autoridades competentes. A ocorrência foi devidamente documentada, garantindo a transparência e a legalidade dos procedimentos adotados.
Nota OAB-GO
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) vem a público informar que solicitará ao Comando da Polícia Militar rigorosa apuração de uma denúncia de ação abusiva e agressões contra um advogado e sua família. Segundo as alegações, o advogado teve sua casa invadida sem mandado judicial neste sábado, 10 de agosto, em Trindade, por policiais da Companhia de Policiamento Especializado (CPE).
Ao tomar conhecimento do ocorrido, a Ordem, por meio de sua Comissão de Direitos e Prerrogativas (CDP) e da subseção de Trindade, iniciou o acompanhamento do caso, adotando todas as providências para que a denúncia chegasse à autoridade correicional da Polícia Militar. Além disso, a OAB-GO tem oferecido total apoio ao colega advogado.
A atuação de agente público, sem denúncia ou suspeita fundada, configura flagrante violação dos direitos dos cidadãos. A presença não autorizada da PM em domicílio privado, sem mandado judicial específico ou flagrante devidamente comprovado, afronta o artigo 5º, inciso XI, da Constituição Federal, que assegura a inviolabilidade do lar.
Por essa razão, e sendo a OAB-GO uma defensora intransigente das prerrogativas da advocacia e dos direitos da sociedade, não medirá esforços para que essa situação seja completamente esclarecida e para que os servidores públicos envolvidos, se comprovado que atentaram contra direitos da cidadania, sejam punidos com o rigor da lei.
VÍDEO: Advogado denuncia que foi agredido por PMs que invadiram sua casa
Por Michel Gomes, Lucas Barbosa, Filipe Barbosa, g1 Goiás e TV Anhanguera